Por Marise Carpenter
O poeta Dylan Thomas (Rhys Ifans) nasceu na cidade de Swansea, no País de Gales, no dia 27 de outubro de 1914. Aos 11 anos já tinha escrito mais de duzentos poemas. Passou pelos Estados Unidos na década de 1950 em uma turnê por diversas universidades e se torna uma lenda. Um dia em 1953, com 39 anos, ele bebe 18 doses duplas de whisky na Taverna White Horse, em Nova York, e diz: “Isso deve ser algum tipo de recorde” e entra em coma. Aqui começa o filme.
Na Taverna White Horse onde Dylan chega e propõe dar nomes a cada dose de whisky que vai bebendo, o filme já mostra um esplendor. A primeira é Inocência, depois vem Obstinação, Fé, Ressurreição, Arrependimento, Excesso, Tristeza e por aí vai, descrevendo o por quê de cada nomeação com uma beleza e propriedade de quem é poeta e alcoólatra. White Horse é também o local de embate de Dylan com Carlos, o barman (Rodrigo Santoro) que tem papel crucial nos últimos momentos da vida de Dylan. O filme não deixa muito claro o papel de Carlos, mas podemos ver como um interlocutor de suas poesias, como um juiz de sua arte e seu comportamento na vida, como um frustrado escritor, ou como um barman mesmo que fica íntimo da clientela a ponto de se “intrometer” em suas vidas. Na Taverna também é o local dos delírios de Dylan que servem para o filme mostrar sua relação familiar e sua situação financeira decadente, sem um tostão no bolso.
O filme mostra Dylan em sua turnê pelas universidades americanas lendo suas poesias com intensa dramaticidade, irreverência, que arrebatava plateias lotadas de jovens alunas apaixonadas e inebriadas por seu romantismo.
A presença de John Malkovich como o médico de Dylan é um caso a parte. Rouba a cena em todas que aparece. A da aula de anatomia para uma turma de futuros médicos é arrasadora! Ele vai falando da utilidade de um corpo morto estar ali presente com total poesia. Aqui o filme arrasa!
Do diretor Steven Bernstein (de “Unidas pela vida”), Dominium é daqueles filmes que a gente tem vontade de dizer: para porque eu quero pensar sobre isso! Tem falas maravilhosas e a atuação de Rhys Ifans está impecável.
Abaixo a poesia de Dylan Thomas que inspira o título do filme:
E A MORTE PERDERÁ O SEU DOMÍNIO
E a morte perderá o seu domínio
Nus, os homens mortos irão confundir-se
com o homem no vento e na lua do poente;
quando, descarnados e limpos, desaparecerem os ossos
hão de nos seus braços e pés brilhar as estrelas.
Mesmo que se tornem loucos permanecerá o espírito lúcido;
mesmo que sejam submersos pelo mar, eles hão de ressurgir;
mesmo que os amantes se percam, continuará o amor;
e a morte perderá o seu domínio.
E a morte perderá o seu domínio.
Aqueles que há muito repousam sobre as ondas do mar
não morrerão com a chegada do vento;
ainda que, na roda da tortura, comecem
os tendões a ceder, jamais se partirão;
entre as suas mãos será destruída a fé
e, como unicórnios, virá atravessá-los o sofrimento;
embora sejam divididos eles manterão a sua unidade;
e a morte perderá o seu domínio.
E a morte perderá o seu domínio.
Não hão de gritar mais as gaivotas aos seus ouvidos
nem as vagas romper tumultuosamente nas praias;
onde se abriu uma flor não poderá nenhuma flor
erguer a sua corola em direção à força das chuvas;
ainda que estejam mortas e loucas, hão de descer
como pregos as suas cabeças pelas margaridas;
é no sol que irrompem até que o sol se extinga,
e a morte perderá o seu domínio.