Deixe a Luz Acesa

A Odisseia Clichê de Uma 

Pseudo-Normalidade Gay

 
Por Fabricio Duque
 
Se compararmos o gênero de cinema gay com a cinefilia “heterossexual”, então encontraremos uma dicotomia apresentada pelo contraste irregular. Do lado minoritário, observa-se a moral desconstruída ao preconceito; as repetições defensivas dos limites da sociedade; o lado alternativo de ser; a tensão sexual quase instintiva; a crua realidade sem otimismo; a tendência à arte; a “amoralidade” desafiadora, seca e incisiva, buscando fazer parte de um espaço de regras impositivas a não diversidade sexual. Resumindo, uma ditadura inversa. Do lado “padrão”, encontra-se a plastificação da “normalidade”, advinda de preceitos religiosos e da massificação midiática (que repete a opinião popular de unilateralidade amorosa). Há ainda o amor fantasioso ao platonismo, de intenção e com finalização feliz da trama abordada, restringindo e enquadrando uma linearidade esperada.
No filme em questão aqui, “Deixe a Luz Acesa”, o diretor Ira Sachs (de “Vida de Casado” e “Forty Shades of Blue”, que divide o roteiro com o brasileiro Maurício Zacharias, opta pela conjugação dos lados, gerando o gênero misto, que quebra os preconceitos do primeiro com a visão moralista do segundo. O longa-metragem conduz-se pela atmosfera pessimista e depressiva, perceptível desde o início quando insere as músicas “folk-melancólicas-nostágicas” de Arthur Russel, que tem história semelhante à ficção deste filme, em um estilo musical que engloba o Avant-garde, experimental, minimalismo, power pop e new wave. A trama começa em 1998, e a busca por sexo pelo telefone fixo era o “sucesso” do momento. A casualidade era presente. Entregar-se à luxúria, extravasando os sentimentos primitivos, quase como fisiológicos, era uma prática aceitável pelos dois lados. A fotografia do quarto ajuda a caracterizar este período ao aprisionar pelo foco da luz saturada ao brilho, lembrando uma câmera amadora escondida.
O roteiro funciona como uma linha reta que mostra a odisseia novelesca de uma relação gay com todos os elementos característicos. O que poderia ser a perfeita síntese deste universo homossexual, torna-se uma sucessão de clichês de um melodrama com informações demais, por querer retratar o estilo gay completo em um único filme. O roteiro basicamente é esse a seguir (logicamente sem abranger spoilers). Marca-se o encontro. O andar confiante pela rua. O desejo. O sexo não prolongado. O pós-encontro casual (quando um deles espera mais que um instante sexual). O outro diz “À propósito, eu tenho namorada, não tenha muitas esperanças”, um advogado enrustido. Revela-se a solidão e que a busca não se concentra apenas no ato sexual e sim na utopia de uma companhia perfeita (que atenda todos os requisitos – como abaixar a gola da camisa).
Enganam-se por achar que querem a conversa, para logo depois tentar chocar com a própria vida crua e polêmica: a aids e a primeira vez com treze anos. E por aí vai. Há a amiga que quer um filho do gay, que por sua vez se vê chocado porque tem um namorado. O melodrama desenvolve-se. O último filme de Pedro Almodovar, “Os Amantes Passageiros” é bem mais sutil. Há também, no filme em questão, os “amigos”. Na festa surpresa, felizes. Em um pequeno grupo, expressam o veneno de uma amargura pessimista, debochada, plantando a descrença e a maldade, gerando a retração e vulnerabilidade do atingido. Há ainda as drogas, usadas no sexo, ocasionando o vício, a reabilitação, o grupo de ajuda, a abstinência, o retorno, a aceitação, a co-dependência pelo comodismo de alimentar a auto-destruição sôfrega, o ciúme, a briga, a mudança de foco, a decepção, a traição, o sexo escatológico, a boate para esparecer, a experimentação do vício para entender e a sensação para se libertar de tudo isso. O filme não incomoda por ser pesado e pessimista, mas por querer ser clichê com status de cult e pela falsa naturalidade, quando impõe o estilo “quero-ser-hetero-mas-sou-muito-gay-só-que-preciso-interpretar-uma-afetação-para-ser-um-pouco-mais-gay-do-que-preciso-ser”. Trocando em miúdos, uma caricatura tentando ser natural.  Concluindo, um longa-metragem que pretende não ser um retrato estilizado de uma relação gay, mas que cai em contradição, apresentando uma moralidade reversa e altamente melodramática.
Em Nova York, o documentarista Erik (Thure Lindhardt) conhece o advogado Paul (Zachary Booth). O que à princípio poderia ser apenas um encontro sexual se transforma em algo muito mais sério, um relacionamento de quase 10 anos. Paul não assume publicamente que é gay, preocupado com a carreira, já Erik é assumido. A relação amorosa deles dois vai se tornando instável à medida que eles têm que lidar com seus vícios e compulsões e confrontar seus próprios limites.
2 Nota do Crítico 5 1

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