O Brazil por um gringo verde
Por Fabricio Duque
Nosso site recebeu um e-mail do cineasta holandês Douwe Dijkstra (de “Voor Flm”, “Démontable”) nos apresentando seu mais recente curta-metragem, “Tela Verde Gringo”, que mostra seu particular olhar de estrangeiro sobre o Brasil na época do impeachment de Dilma Rousseff, “um crime político institucionalizado que realmente está enraizado em todas as esferas governamentais”.
A narrativa, com inserções de áudios da Rede Globo, TV Câmara e Al Jazeera, é construída pela união experimental, de interferência na imagem, de moradores, da cidade de São Paulo, em efeitos visuais e chroma key (que consiste em colocar uma imagem sobre uma outra por uma cor padrão, neste caso o verde) em contexto documental.
Aqui é mais um filme sobre pessoas vivendo “como se nada tivesse acontecido” em um período conturbado da História do Brasil que sobre a explicação política. Em um dos telefonemas à alguém, o diretor diz que está “tentando entender o que está acontecendo”, “que a situação aqui está complicada”, que “o mais estranho é que tudo parece normal”, que “parece que nós não temos força suficiente para mudar a situação”, que “as notícias são muito tristes” e que “temos um novo repugnante e mais polarizante Presidente Michel Temer, conhecido por atender os interesses da elite brasileira”. Tudo com uma pixação de “Fora Dilma” na parede, e um andante chroma key que mostra protestos petistas e a fala de Jean Wyllys.
“Como acha que fazemos para sobreviver? Bem, os ricos roubando os pobres é uma verdadeira loucura… E nenhuma nuvem no céu”, canta o grupo O Terno na música “Brazil”. Sim, nós brasileiros realmente não sabemos, muito porque não fomos educados politicamente e muito porque preferimos “varrer nossos problemas para debaixo do tapete” com samba, futebol, carnaval e cerveja. Continuamos a dançar, a buscar a diversão nas limitadas possibilidades.
É um filme conceitual de um “homem tela verde”. Que “zapeia” notícias da “questão essencial da política” até trecho da música de Ana Carolina, passando por um funk, e que “conversa” com outro documentário, o longa-metragem “O Processo”, de Maria Augusta Ramos, exibido no Festival de Berlim 2018, e que integra a seleção do festival É Tudo Verdade deste ano.
“Tela Verde Gringo” contempla ações e encenações de tipos urbanos, os “transportando” a outras paisagens dentro do próprio ambiente em que estão. Procura-se o tom orgânico, amador, direto e popular para tentar traduzir a essência do diversificado povo brasileiro com suas imigrações, tradições indígenas, opções sexuais, poesias, esperas, torpores, sons, barulhos, praias, museus, incompatibilidades (como um surfista vendo uma obra de arte), exercícios físicos, resignações e em sobreviventes roupas de Homem de Ferro.
Quanto mais assistimos, mais absorvemos a questão política envolta no cotidiano “normal” daqueles que nada fazem e nada lutam. E que vivem sonhos de um Brasil melhor pelas projeções interferências de um chroma key gringo. “Onde você acha que moramos no Brasil?”.