Por Fabricio Duque
Talvez para se fazer um documentário sobre o mítico-icônico-cineasta Glauber Rocha, seja necessário “apelar” as mesmas características do “homenageado”, que é a verborragia hiperbólica, apoteótica e amadora. O jornalista Geneton Moraes Neto usou exatamente esses elementos. A simplicidade da narrativa básica-jornalística, ora tabloide, ora encenação poética teatral dramatizada, com multi-telas, de hiper-dimensionamento brasileiro. Em seu filme “Cordilheiras do Mar: A Fúria do Fogo Bárbaro”, preteriu o conteúdo à forma, intensificando ideias, ideais e a “utopia do diálogo passional” . Aqui, busca-se abordar um Glauber visceralmente político e menos cinematográfico, um “Cristo do terceiro mundo”. O filme “é para ser visto e ouvido”. Entre frases de efeito “a esperança é um animal nômade”, “sugestão” de Godard em “você precisa destruir as câmeras do Brasil”, o documentário “procura” a visceralidade em “provocar reações e relâmpagos” em uma “discussão violenta e séria”, ora “chegando” ao nível de “advogado do diabo” (a favor dos militares e contra o “Super Homem”), inserindo filmes do baiano, discursos encontrados e “bate-papos” com próximos ao artista revolucionário. “Chega de desmistificação”, diz-se. São monólogos exaltados e radicais a fim de “revisitar” o universo único de Glauber, sem esquecer “arrebatamentos no lugar de sussurros”, “auto-exílios”, “manIqueísmos”, “multi-imperalismos”, “forças intempestivas”, “anarquismo construtivista” (“retórica da lamentação”), “fanatismo ideológico” (em “participar da guerrilha mas com uma câmera na mão”). O Brasil para Glauber era “uma necessidade física”, a “coragem de pensar o popular”. “Cordilheiras do Mar: A Fúria do Fogo Bárbaro” aprofunda “suas transições” de uma “verdadeira revolução brasileira”. “Por que o dissidente é pior que o inimigo?”, polemiza-se com “utopia febril” e com um “hino de geopolítica ilegítimo”. É pulsante e resgata que seu “delírio era sua dose necessária”. É totalmente um filme pró-Glauber (“um profeta protestante”), tanto que Jaguar (do Pasquim) “desculpa-se” das críticas da época com a defesa do “vício da bebida”. “Se Cristo fosse cineasta, seria o Glauber porque trouxe o fogo”, frase esta que resume o positivismo da homenagem póstuma e das “casualidades do Brasil”. Concluindo, o documentário comporta-se como pretende ser: “amigo” ao “tratar” a temática “glauberiana”. A coletiva de imprensa no Cine Ceará 2015 talvez tenha sido uma continuação do longa-metragem ao questionar e confrontar gerações, vivências, idealismo políticos e “alterações” discursadas. Um filme que tenta “traduzir” Glauber pela memória “empoeirada” da afinidade pessoal unilateral e subjetiva, assim como toda opinião já é por essência de nascimento. “É um pequeno comício contra a intolerância”, finaliza o diretor.