Cores Só no Título
Por Narda Staël
(cedida do site Almanaque Virtual – 09/05/2013)
Cores só no Título. A falta de perspectiva de três jovens é o mote do filme Cores, longa-metragem de estreia do diretor Francisco Garcia. A ausência de cor no filme destaca outros elementos como a trilha sonora de Wilson Sukorski, feita especialmente para “Cores”, ouvida logo no início. E a bela fotografia de Alziro Barbosa, que ao dispensar a câmara tremula tão usual nos dias de hoje, alcança uma precisão artística admirável. O filme narra a história de três amigos que vivem de subempregos: o tatuador Luca (interpretado por Pedro di Pietro) que rouba e mora com a avó (personagem de Maria Célia Camargo), o farmacêutico Luiz (vivido por Acauã Sol) que desvia remédios tarja preta, e sua namorada, Luara (Simone Iliescu) vendedora em uma loja de peixes. E falando em peixes, a cena onde Luara aparece observando um grande aquário remete ao filme “O Selvagem da Motocicleta”, de Francis Ford Coppola. Também filmado em preto em branco, assim como “Cores” que traz como único colorido o título, o longa do diretor italiano o faz nos peixes. Será uma homenagem de Garcia? Cheio de metáforas e com um toque político forte, comum à época, o longa parece ter sido rodado numa efervescente São Paulo dos anos 80. A conclusão é tirada já que o tatuador Luca aparece numa cena no local de trabalho com um pôster ao fundo de “Estranhos no Paraíso”, longa de estreia de Jim Jarmusch. E as metáforas não param por aí: ainda tem a cena na casa de Luca onde a tartaruga, animal de estimação de sua avó, atravessa um quintal debaixo de uma chuva forte em frente dos três amigos sentados parados ou diria petrificados nas cadeiras, como pessoas sem rumo, que caminham com lentidão para um lugar indefinido. Da bela fotografia em preto e branco, destaca-se o cuidado com a composição de quadro e o posicionamento da câmera na cena em que o casal Luiz e Luara aparece dormindo totalmente despido. Nada de zoom desnecessário. Uma verdadeira obra de arte! Parafraseando o grande escritor Nelson Rodrigues “Cores” retrata a realidade nua e crua de uma juventude sem horizontes da pós- ditadura. Vale à pena conferir essa produção que vai dar na contramão do cinema comercial!
4
Nota do Crítico
5
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