Curta Paranagua 2024

Crítica: Cinquenta Tons de Cinza
Por Fabricio Duque

“Cinquenta Tons de Cinza”, de Sam
Taylor-Johnson, estreante na direção de um longa-metragem, e esposa de Aaron
Taylor-Johnson (protagonista de “Kickass – Quebrando Tudo”), é
lançado em 1090 salas de cinema do Brasil. Baseado no Best-seller de E.L. James,
o filme pode ser chamado de tudo, menos de machista, visto que a parte
“contratante” feminina domina o “homem” desde o início.
Temos o sadismo inverso. A “presa” modifica seu dominador e os “cinquenta
tons de cinza” das perversões dele, de “ser assim porque foi
“criado” assim”, utilizando-se das técnicas aprendidas de
“desprezar” a atenção. Quanto menos “dava”, mais o “bilionário” queria. O
espectador dá-se conta do grau de puritanismo disfarçado que há nos Estados
Unidos. São limites suavizados em doses permitidas de “quebra” de
conceitos politicamente incorretos. Assim, vemos o quanto problemática é a
questão sexual. Não se pede aqui algo tão radical como a experiência visceral
“120 dias de Saló”, de Pior Paolo Pasolini, ou tão psicológico como “A Professora
de Piano”, de Michael Haneke, ou tão psicótico como “Ninfomaníaca”, de Lars Von
Trier. Tampouco a “História de O.”, romance erótico escrito por Anne Desclos
sob o pseudônimo Pauline Réage e publicado na França em 1954. Não. Mas também
não ser pautado em hipocrisias “vendáveis” sociais. “Cinquenta Tons de Cinza” talvez
seja uma análise “crucial” antropológica da sociedade atual, especialmente de suas
mulheres. Talvez pelo tom “pessoal-perceptivo” da escritora e da diretora.
Aqui, o que se explicita é uma vitória do feminismo. De escolha. Quase uma
homenagem ao livro “Segundo Sexo” de Simone de Beauvoir (um estudo sobre a
mulher na sociedade que faz uma análise, histórica, social e psicológica). Por
um “contrato” inicial de estímulo ao prazer, que se “desestrutura” e assume a
“sedução” intrínseca das mulheres, mostra-se um protagonista masculino “frágil”
e com opiniões “massificadas” de extremismo. Christian Grey foi dominado, mas
busca a própria redenção. Só que todas as metáforas implícitas – tentativas narrativas
– “caem por terra” ao utilizar do circo midiático e do visual da nova
cinematografia “puritana”. É um típico filme que gera risos alterados, dizeres na
plateia como “estou excitada” – majoritariamente feminina (com amigas
e ou com o namorado-marido). Não aprofundei o que ouvi. Talvez a “agitação”
seja pelo dinheiro do personagem que tenta comprá-la ou por existirem mais e
mais heterossexuais optando pelo mesmo sexo. Não há como não lembrar os filmes “Proposta
Indecente” de Adrian Lyne, e ou de “Uma Linda Mulher” e ou o clássico
“menininha” “Bonequinha de Luxo”. É o mesmo argumento, em
diferentes vertentes, mas é. No livro “Como a Geração
‘Sexo-Drogas-e-Rock´n´Roll’ Salvou Hollywood”, de Peter Biskind, o
leitor-cinéfilo pode observar a transformação na conduta social americana. Se
no classicismo cinematográfico, o menos era mostrado mais com sutileza que
explicitamente, um pouco antes de agora, a naturalidade e “obsessão” pela
realidade se fazia presente. Hoje, há um retrocesso narrativo. Mesmo com toda
“liberdade” objetivada, os limites estão “retornando” ao culto pela moralidade
e bons costumes. Tanto que Na Malásia, o governo baniu o filme dos cinemas por
considerá-lo “sádico”, lugar que ativistas estão contra abusos cometidos contra
mulheres. Anastasia Steele (Dakota Johnson) é uma estudante de literatura de 21
anos, recatada e virgem. Uma dia ela deve entrevistar para o jornal da
faculdade o poderoso magnata Christian Grey (Jamie Dornan). Nasce uma complexa
relação entre ambos: com a descoberta amorosa e sexual, Anastasia conhece os
prazeres do sadomasoquismo, tornando-se o objeto de submissão do sádico Grey.
Não é um filme sobre sexo. E sim romance. Não pode ser considerado um “exemplo”
de sadomasoquismo, porque o objetivo inicial é deturpado. Tudo é consentido.
Incluindo saídas ao cinema e “dormir de conchinha”. Quanto à música, “I Put a Spell
on You”, regravada por Annie Lennox tenta “resgatar” o tom sexy sôfrego da
versão original de Nina Simone ou pela experiência epifânica de Creedence
Clearwater Revival (visto em “Saint Laurent”, de Bertrand Bonello.  Também não consegue. Continua sendo pop,
adolescente e ingênuo. Conclusão, “Cinquenta Tons de Cinza” foi embalado
polêmica, mas a surpresa “kinder ovo de ser” é a paixonite fantasiosa “Disney” de ser. Até
o nome é parecido “Anastasia”. 

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