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A Criação

Ficha Técnica

Direção: Jon Amiel
Roteiro: John Collee, baseado na biografia escrita por Randal Keynes
Elenco: Paul Bettany, Jennifer Connelly, Jeremy Northam, Toby Jones, Benedict Cumberbatch, Jim Carter, Teresa Churcher, Zak Davies, Harrison Sansostri.
Fotografia: Jess Hall
Trilha Sonora: Christopher Young
Direção de arte:Bill Crutcher, Pongnarin Jonghawklang, Gary Jopling e Stuart Rose
Figurino:Louise Stjernsward
Edição:Melanie Oliver
Efeitos especiais:Crazy Horse Effects / Fugitive Studios / Machine
Produção: Jeremy Thomas
Distribuidora: Imagem Filmes
Estúdio: Recorded Picture Company (RPC) / UK Film Council / BBC Films
Duração: 108 minutos
País: Reino Unido
Ano: 2009
COTAÇÃO: REGULAR

A opinião

Com produção da BBC Films, que já é famosa por apresentar uma estética de televisão no cinema, o novo filme do diretor Jon Amiel escala Jennifer Connely e conta a história do naturalista inglês Charles Darwin (Paul Bettanny), criador da teoria da evolução das espécies. Mostra o drama do renomado cientista e dedicado pai de família, dividido entre a religiosidade da esposa Emma (Jennifer Connelly) e a própria crença, em um mundo no qual não há lugar para Deus. O seu livro “A origem das espécies” ficou conhecido como “a maior ideia original da historia do pensamento”, em 1859.

O inicio mostra imagens da natureza em vários estágios de distintos seres. Intercala-se, de forma não linear, com um pai contando uma história da crua natureza a sua filha. Com uma fotografia nostálgica, de época antiga, porém com elementos modernos, contrasta, com o brilho saturado da imagem, a não temporalidade e realiza a referencia de que os tempos ainda não mudaram. A paciência de explicar todos os significados a filha é explicado aos poucos com peças de um quebra-cabeça quando transforma a luz na digressão de outras histórias.

A técnica de apresentar o fora de fora, visto de uma janela embaçada, interage os elementos e os tornam personagens apresentados em detalhes. Um exemplo é quando uma fotografia é tirada pela própria metalinguagem.

A atmosfera suja, bruta, interiorana, visceral serve para demonstrar o realismo, porém peca no próprio óbvio apresentado, repetindo o desgaste de técnicas cinematográficas. O tom sépia, como uma foto desbotada amarelada acrescenta o objetivo apresentado.

Os diálogos são cruéis e diretos como se desejasse explicitar a própria natureza e seus instintos impensados e inerentes. Dilacera o politicamente incorreto sem pudores das relações humanas. O objetivo é transformar seres “selvagens” em humanos. Nativos de uma aldeia em entendedores dos talheres servidos em refeições aristocratas. “A nossa raça evolui de acordo com as suas necessidades”, diz-se. Com isso ele procrastinava o viver, sempre adiando as coisas com medo de senti-las.

Charles Darwin necessitou realizar experiências. Era a sua própria cobaia. “Se tira-lo de sua rocha, ele morrerá”, clama-se para que seu mundo imaginário pós-traumático não veja a realidade. E cada vez mais dava preferência aos estudos e não fornecia a atenção a sua família. Os conflitos dele sobre religião e ciência eram recorrentes e catárticos. “Você matou Deus, meu velho”, dizia-se. A crença religiosa estava em guerra com a ciência. A esposa, católica, realizava orações antes das refeições. Ele, ateu, parou de acreditar no divino por causa de um acontecimento que segundo ele o Ser Supremo podia consertar e não o fez. “Tanta beleza para tão pouco propósito”, divaga-se sobre a natureza.

A narrativo em estilo novela incomoda. Como disse repete o óbvio e cai no clichê. O ritmo televisivo é explicito. “A natureza é um campo de batalha”, diz e mostra quase um documentário não ficcional dos programas do National Geographic. Closes em insetos, decomposições e atividades de caça animal.

Os questionamentos dele exacerbam-se. “Se sem Deus, a humanidade tivesse só a brutal sobrevivência”, enquanto é rebatido “Isso é só uma teoria”. As historias contadas remetem a sua própria vida e de seus semelhantes. Há a metáfora dos sentimentos tácitos não mostrados e os explícitos em momentos já sem tempo de acontecerem, conduzindo a um mundo único e individualista de se ver o que precisa ser visto, ora para acalentar a alma, ora para reviver o passado perdido.

A cena da macaca Jenny rouba o filme. É um personagem real, com uma interpretação tão real que arrepia. É a transformação de uma figura em um ser humano com suas complexidades e emoções. A observação dos animais sensibiliza e humaniza. Os ditos racionais, seres pensantes os humanos, possuem um grau de crueldade e satisfação por historias tristes. O choro é estimulado por prazer.

“Sou uma abelha operária”, ele diz. Vive entre a religião imposta sem fundamentos e a verdade da ciência não aceita pelos outros. “A perda da fé religiosa é um processo lento e frágil como o nascimento de um continente”. Ele faz questão de mostrar a sua visão racional, de não abrandar o realismo, quando leva os filhos para assistir uma raposa atacando um coelho. Uma das filhas chora. “É o equilíbrio das coisas”, diz a outra filha (com uma interpretação excelente), pupila dos ensinamentos do pai, a que sempre pergunta tudo.

A imaginação dele cria o passado como confronto de seu próprio ser. A fantasia estimula o surrealismo das imagens e a loucura de não conseguir sair dessas idéias massificadas pela causa de seu próprio sofrimento. Todos acham que Charles está louco e procura “o médico das almas”. “Lógica não é tudo”, diz.

O sentimentalismo excessivo das músicas em ações exageradas aumenta os clichês, esfriando e repetindo o óbvio, querendo que as lágrimas sejam derramadas. O filme apela muito e descamba no melodrama mal feito. “Lembrança é considerada uma ação?”, diz-se. A verdade, mal interpretada por seus personagens, aparece e diminui o abismo entre o casal. Quando ele acaba de escrever o livro, passa a sua mulher católica e diz “Faça o que quiser, queime, destrua, mas leia”, já aí o mamão com açúcar já dominar totalmente o longa. “Finalmente tem a minha cumplicidade”, finaliza um filme regular, com destaque para a macaca que, sem sombras de dúvidas, é a melhor parte apresentada, tanto que é a foto do cartaz e para a cena final, sutil e sem explicações sobre ‘fantasmas’ que nunca nos deixam.

O Diretor

Jon Amiel nasceu em 20 de maio de 1948, em Londres. É um diretor inglês. Trabalhou muito em programas de televisão na Inglaterra. Atualmente mora em Santa Mônica, Estados Unidos, e vive com sua mulher e seus dois filhos. Iniciou a faculdade em literatura enquanto se envolvia com o teatro.

Filmografia

1989 – Queen of Hearts
1990 – Tune in Tomorrow
1993 – Sommersby
1995 – Copycat
1997 – The Man Who Knew Too Little
1999 – Entrapment
2003 – The Core
2009 – A Criação

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