Mostra Um Curta Por Dia A Repescagem 2025 Junho

Confira tudo o que acontece no Festival Cine PE 2025

Confira tudo o que acontece no Festival Cine PE 2025

Um balanço parcial do que está rolando aqui no Festival Audiovisual em Recife

Por Clarissa Kuschnir

Quando um festival chega ao final bate aquela sensação de dever cumprido e de poder ter tido o contato com tantas obras que muitas vezes não chegarão ao circuito comercial, como no caso dos curtas-metragens. E quando alguns dos longas são mais autorais sem distribuidora e feitos na guerrilha, há uma dúvida de quando esses títulos estarão ao alcance do público. Infelizmente no Brasil, embora saibamos como crescemos como cinema nos últimos anos, a distribuição ainda é restrita e falta salas de cinema. Por isso a importância dos festivais. E o Cine PE 2025, que chega a sua 29 ª edição, é um festival muito aberto ao público da cidade. Durante a semana do festival esse público comparece, participa, principalmente na mostra local.  E nesses últimos anos em que tenho estado no festival, percebo uma tendência no cinema mais autoral e foco nos documentários, dando um destaque especial para a direção feminina em diversas produções. Neste ano, foram três longas de ficção e dois documentários que fizeram parte das mostras competitivas. Já o programa de curtas da competitiva foi composto por 16 filmes, entre os pernambucanos e nacionais.

O festival abriu bem com a presença ilustre da Ministra Margareth Menezes que lançou o edital de Arranjos Regionais destinando 300 milhões sendo 70% para o Norte, Nordeste e Centro-Oeste e 30% Minas Gerais, Espírito Santo e Sul do Brasil.

“Boa noite, meu querido público cinéfilo e do audiovisual que nos apoia há tanto tempo. Eu gostaria de anunciar aqui saudando a nossa Ministra Margarethe Menezes que nos honra com a sua presença, mas também pelo fato de estar lançando o edital de “Arranjos Regionais”, disse Alfredo Bertini, diretor e produtos executivo do festival, ao abrir a solenidade de abertura. 

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Além da ministra estavam presentes o Prefeito João Campos, a Secretaria de Cultura Cacau de Paula, a Secretária do Audiovisual Joelma Gonzaga, o secretário de Cultura de Sergipe Valadares Filho. Um elenco de peso político para o primeiro dia do festival.

“Eu quero dizer que o cinema brasileiro tem uma janela de oportunidades que é inédita, conquistando novos circuitos nacionais e internacionais. O Festival de Cannes estava maravilhado com a participação da equipe do Brasil. Foram 400 brasileiros lá. O cinema brasileiro já é um cinema amadurecido e com tantas dificuldades, mas, a gente consegue chamar a atenção do mundo e isso não é de agora. Eu acho que agora é o grande momento. O momento da bola da vez. Estamos nos dedicando para potencializar essa força e riqueza que significa a diversidade cultural do nosso povo. Então os arranjos regionais têm esse lugar importante nessa nossa visão que prevê esses 300 milhões.  É um merecimento deste setor. Não estamos fazendo política de descentralização e sim de nacionalização. Abrindo, ampliando e trazendo essa janela para que toda essa produção e qualidade do nosso povo seja visto nas telas”, disse a ministra sobre aplausos do público.

A ministra Margareth Menezes ainda lembrou da questão da regularização do VOD e a importância de que se haja um diálogo pacífico entre o governo e o setor.

E assim esperamos que nos próximos anos tenhamos essa nacionalização e mais cinema brasileiro nas telas. E por falar em filmes, a primeira noite do festival abriu com o curta convidado “Eu Preciso Dizer que Te Amo”. Dirigido do Marlom Meirelles em parceria com os estudantes da rede pública de Jaboatão dos Guararapes, um documentário que traz o depoimentos de diversos moradores locais onde se aborda o tema amor. O longa, que ainda tem a produção executiva de Sandra e Alfredo Bertini, conseguiu emocionar o público com uma linguagem simples, mas muito verdadeira e simpática.  

De toda a semana o que me chamou a atenção das mostras competitivas de longas foram: a ficção “A Maior Mãe do Mundode Anna Muylaert, que depois de ter passado pelo Festival de Berlim deste ano, teve sua estreia no Brasil neste Cine PE; e o documentário “Itatira”, de André Luís Garcia, que apesar de ser um filme difícil é ao mesmo tempo contemplativo. Confesso que em alguns momento o filme me deixou bem desconfortável, mas aí é que ele ganha força. Fala do sobrenatural em um lugar em que a paz parece prevalecer.  

Já das mostras competitivas dos curtas pernambucanos, destaco a terceira noite do festival (onde fez parte o longa “Itatira”), que trouxe o cinema de gênero e fantástico com os títulos “Lança-Foguete, de William Oliveira que traz para as telas a questão de invasão alienígena e o sumiço de pessoas abduzidas, por possíveis seres do outro mundo; e “Sertão 213”, de Deuilton B Junior, em que o diretor aborda numa Terra distópica, uma cientista crente de poder escapar do fim do mundo. No gênero documental “O Carnaval é Pelé” é um interessante retrato sobre a vida do enfermeiro aposentado de nome Pelé que recorda sua participação no centenário grupo folclórico Bumba Meu Boi e Boi Tira-Teima. É um mergulho nostálgico, da cultura local.

Dos curtas nacionais os destaques foram: “Cavalo Marinho” de Léo Tabosa que de forma muito sutil aborda a figura de uma mãe trans; “Kabuki” que é uma pérola de animação onde seu diretor Tiago Minamisawa se utiliza de diferentes técnicas para trazer uma arte tradicional de encenação japonesa, que existe há séculos. É tudo tão poético e grandioso, nesta animação; “Liberdade Sem Conduta” de Dênia Cruz; e “Casulo” de Aline Flores são dois filmes que eu já conhecia de outros festivais que foi ótimo rever em tela grande. O primeiro por retratar uma mulher que matou o marido e já em liberdade depois de anos de prisão, usa uma tornozeleira eletrônica. A diretora não mostra o rosto de sua protagonista, mas seus depoimentos já são o suficiente para entender o que a trouxe a cometer tal crime. E a diretora tem um lugar de não julgamento, apenas acolher e dar voz para a essa mulher. Em Casulo, Aline Flores (que também é a protagonista) aborda uma mãe que cuida de seu filho sozinha e que está fragilizada, em um momento de grandes transformações, em sua vida. E ainda com o tema mãe e questões mentais tem o esteticamente belo “A Caverna”, de Louise Fieldler, com Patrícia Saravy no papel da mãe. Destaco também “Depois do Fim” de Pedro Maciel que fala sobre dois jovens ex-namorados que se reencontram sem querer depois de mais de 5 anos do fim do namoro, gerando lembranças sobre o que passou entre eles. 

Durante a semana ainda teve palestra com Walter Carvalho que lotou a sala do hotel Novotel Recife Marina e homenagem ao versátil ator Júlio Andrade, que recebeu seu Calunga de Ouro das mãos do diretor Beto Brant, que o dirigiu em “Cão Sem Dono”, em 2006.

Especial Julio Andrade

“Eu agradeço muito por ter essa oportunidade e o privilégio de viajar pelo meu Brasil contando histórias do meu povo. Todo trabalho que eu faço, eu mergulho muito fundo. Melhor que trabalhar é saber que tenho uma família me esperando para eu voltar. Então, eu me proponho a esse jogo que é fazer cinema e minha família sabe disso e me compreende. Eu acho que por eu ter feito isso com tanta paixão é que eu estou aqui hoje em cima deste palco sagrado, onde têm pessoas que amam cinema e que eu admiro. Ontem eu estava aí sentando aplaudindo meus mestres, meus amigos e nosso cinema, e hoje eu estou seno homenageado. Então para mim é uma loucura. E eu vou guardar muito este momento nas coisas lindas que eu guardo no meu coração aqui. Viva o cinema brasileiro, viva Pernambuco e viva o Cine PE”, disse muito emocionado Júlio Andrade

E realmente foi um momento especial. As mostras competitivas acabaram, mas o festival ainda continua até domingo com algumas coletivas incluindo a de Júlio Andrade, a exibição do longa Os Enforcados de Fernando Coimbra, homenagem a Leandra Leal, mostras paralelas e anúncio dos vencedores. E o Vertentes do Cinema, continua por aqui e pelas redes sociais.   

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