Direção: Malu De Martino
Roteiro: Sabina Anzuategui, Silvia Lourenço, Douglas Dwight, Daniel Guimarães, Luiza Leite e José Carvalho
Elenco: Ana Paula Arósio, Murilo Rosa, Natália Lage, Arieta Corrêa, Bianca Comparato, Pierre Baitelli, Regina Sampaio, Marília Medina, Gillray Coutinho, Analu Prestes, Larissa Honorato
Fotografia: Heloisa Passos
Montagem: Pedro Rossi
Música: Bia Paes Leme e Malu de Martino
País: Brasil
Ano: 2010
Duração: 99 minutos
A opinião
“Como esquecer” aborda o tema do sofrimento da perda amorosa, com existencialismo literário e realista. A trama, basicamente, retrata a dor presente de se perder alguém. Os personagens vivenciam o universo intelectual, entre citações e imitações de autores famosos e preferidos, convivendo com a própria homossexualidade não conflituosa e decidida nas ações e quereres. O longa da diretora Malu de Martino transcende o tema abordado, objetivando o conceito universal. Não há a importância dessa opção sexual, mas sim o que envolve o sentimento. A atriz Ana Paula Arósio, que está visceral, contida e totalmente entregue ao papel, interpreta a protagonista egocêntrica, pessimista e extremamente tensa, devido a não presença de sua companheira que não está mais ao seu lado. A música de Elis Regina embala as imagens iniciais, com camera 8mm, com o foco correndo da tela às flores, para situar lembranças. Quando a dor é grande demais por lembrar, a camera cai, interagindo a metalinguagem cinematográfica. A narração necropsia a extrema sinceridade, com frases de efeito, típicas de um livro de Virginia Woolf. A escritora é a atmosfera pretendida. É impossível não referenciar a Nicole Kidman no filme “As horas”. O término dói a alma. O espectador sente isso, porque a camera o aprisiona neste universo, sendo complementada pela excelente fotografia intimista e nostálgica, de dentro para fora, de Heloisa Passos. Há a sinestesia, porque sofremos e respiramos o mesmo ar apresentado. A falta deste elemento natural cria o paradoxo, porque ouvimos do silêncio (que não há) as amarguras e frustrações introspectivas de seus personagens. “Algum preço tem que pagar quando resolve fingir que a vida voltou ao normal”, diz-se. “Excesso de gentileza pode virar abuso”, “O estágio contrário do amor: perplexidade ferida”, são inúmeros trechos narrados, com a narração da própria protagonista, deixando a sensação de que o que se ouve é a leitura de um livro, que se abre para o espectador (leitor), definindo e rotulando as emoções apresentadas. “Prefiro sofrer melhor do meu jeito do que o seu”, diz-se de forma defensiva e agressiva a fim de esconder a possibilidade de visualização do que se possui dentro. “Você conhece alguma coisa mais real que um fantasma”, pergunta-se. O cotidiano, pela crueldade social e a necessidade de exposição ao outro, precisa acontecer uma hora ou outra. Entre pungências, literaturas e intensidades vivenciadas, insere pessoas ao redor dos sofredores. Uns irão bater de frente, outros concordarão, mas todos ajudarão de uma certa maneira. Esses outros estão no mesmo equilíbrio da carga emocional da estrutura narrativa.
Arieta Correa, por exemplo, que vive a artista plástica, mergulha tão intensamente no papel que não conseguimos nem respirar do tanto que a interpretação é arrebatadora. Já o núcleo do amigo, vivido por Murilo Rosa, traz suavização a esta dor recorrente, com o otimismo de quem ainda acredita na vida e faz graça exagerada com isso. “Questão de simetria”, diz-se. Há realismo em uma razão seca e direta que não tenta mostrar o que não é. É um momento da liberdade do poder ser e do poder sentir e vivenciar o que necessita para próxima fase. “Não depender mais do coração alheio”, começa-se a vislumbrar a mudança, pelo simbolismo da mitigação e bagunça da rotina equilibrada. As picardias verborrágicas apresentam-se com perspicácia, recebendo do outro a resposta no mesmo tom afiado. Há traumas e ruídos prévios do que irá acontecer, misturando ficção com a metafisica. A naturalidade da imagem, com sombras e detalhes ágeis, com uma bucólica e brutal naturalidade, demonstra uma vida sem cobranças, sem pedidos, tudo pelo medo de um novo estágio de dor. Concluindo, é um filme poético, equilibrado, que aprisiona o espectador no mundo apresentado, que o faz vivenciar o sofrimento, que não busca a pretensão de ser algo. Por isso é um filme fantástico, extremamente competente e excelente. Um longa para não esquecer.
A Sinopse
Júlia luta para reconstruir sua vida depois de viver intensa e duradoura relação amorosa com Antônia. Em meio a diversos conflitos internos e diante da necessária readaptação para uma nova vida, não disfarça sua dor enquanto narra suas emoções. Ao longo do filme, ela vai encontrar e se relacionar com outras pessoas que também estão vivendo, cada uma a seu modo, a experiência de ter perdido alguém importante em suas vidas. Uma trama instigante que fala de pessoas comuns enfrentando os desafios de superar dores do passado e buscar uma nova chance de encontrar a felicidade.
Nasceu no Rio de Janeiro em 1960 e formou-se em Comunicação pela Faculdade Hélio Alonso em 1979. Em 1983 e 1984, estudou em Nova York na Global Village, New School, na Downtown Community Television Center, na Young Filmakers, Vídeo Arts e na New School TV Academy. Em 2001 dirigiu o média-metragem Ismael e Adalgisa, em 2003 o documentário Sexualidades e em 2006 o longa-metragem Mulheres do Brasil.