Direção: Pascal Chaumeil
Roteiro: Yohan Gromb, Jeremy Doner, Laurent Zeitoun
Elenco: Romain Duris, Vanessa Paradis, Julie Ferrier, François Damiens, Andrew Lincoln, Natasha Cashman
Fotografia: Thierry Arbogast
Música: Klaus Badelt
Direção de arte: Hervé Gallet (desenho de produção)
Figurino: Charlotte Betaillole
Edição: Dorian Rigal-Ansous
Produção: Nicolas Duval-Adassovsky, Laurent Zeitoun, Yann Zenou
Distribuidora: Imovison
Estúdio: Focus Features
Duração: 105 minutos
País: França/ Mônaco
Ano: 2010
COTAÇÃO: MUITO BOM
A opinião
“Como arrasar um coração” conta a história de uma agência matrimonial às avessas. O produto anunciado é a separação dos casais. São contratados e realizam a missão. O filme apresenta-se como uma comédia romântica, mas o que o difere deste gênero tradicional é a inteligência, perspicácia e auto-ironia com os clichês característicos. Comandado por Alex (Romain Duris), sua irmã Mélanie (Julie Ferrier) e o cunhado Marc (François Damiens). Romain Duris, que nasceu em Paris em 28 de maio de 1974, integra a nova safra (independente) do cinema francês. Trabalhou em “Albergue Espanhol”, e também na sua continuação “Bonecas Russas”. Entregou-se em “Paris”, “De tanto bater, meu coração parou”, “Em Paris”. Antes de ser ator, foi baterista de uma banda de jazz. Talvez por isto tenha encontrado o tempo certo da sua forma de interpretar. Uma amiga o considera o novo Jean-Paul Belmondo, astro da Novelle Vague.
“Ele não é bonito, mas cria presença”, ela diz. Romain contracena com Vanessa Paradis. A atriz, inicialmente cantora – desde os oito anos de idade, gravou “Joe le Taxi”, música que virou o hit no Brasil “Vou de taxi”, na voz de Angélica. E não parou mais. A sua primeira experiência no cinema foi em 1989 com o filme Noce Blanche (Boda Branca) e fez inúmeras campanhas de publicidade. É esposa do ator “sensação” Johnny Depp. Em 1999 atuou ao lado de Daniel Auteuil em “La fille sur le pont”. No filme em questão, o casal funciona muito bem. Eles são atores que vivenciam intensamente os seus papéis, mesmo sendo um longa rotulado como apenas uma comédia romântica. Acredito que a escolha de vendagem do título – que poderia ser traduzido numa brincadeira de “Coração anárquico” – desperta uma direção oposta do que se deseja transmitir.
O longa do diretor Pascal Chaumeil (que trabalhou com Luc Besson em “O Quinto Elemento”) é muito bom. É leve, descontraído, elegante, inteligente, debochado, sagaz, ágil, manipulador de forma positiva. O início retrata Marrakech, o paraíso dos apaixonados. O protagonista embarca na linguagem brasileira, citando Salvador em um poema em português. Até então o espectador não sabe das “enganações”. O ambiente é criado. Dunas, médicos sem fronteiras, entregador de vacinas. Ele finge ser uma outra pessoa, jogando a fim de separar casais que não darão certo, contratados por parentes e ou amigos. “Abrimos as suas mentes e não as suas pernas”, diz-se. A “empresa” trabalha com a terceira categoria de mulheres. “As infelizes que não sabem que são infelizes”, explica-se. Por meio da sedução, eles tentam ativar dúvidas sobre o relacionamento que elas vivem.
Na missão, utilizam espionagem high-tech, descobrindo falhas na relação, respeitando princípios éticos. A loucura se dá quando um homem muito rico os chama para pôr um fim no casamento da sua filha Juliette (Vanessa Paradis), mas tem uma pequena exigência: o trabalho tem de ser feito em uma semana. Digamos que ao conhecer a nova “missão”, Alex tem o seu coração arrasado porque a paixão a primeira vista aconteceu. Não há nada de errado no relacionamento de Juliette e o americano Jonathan (Andrew Lincoln). Ela gosta do filme “Dirty Dancing” (cena que é refeita tendo Romain no papel de Patrick Swayze), ouve George Michael. A narrativa conserva o equilíbrio da sutileza, do exagero e da naturalidade – com intensa beleza focando nos detalhes, como experimentar um vinho branco numa mesa de um famoso hotel com iluminação alaranjada e matutina.
São ações simples que buscam a felicidade básica, humanizando tipos e elementos, sem julgá-los por maniqueísmos. Eles pegam os gostos e as manias, contando sempre com o acaso que direciona a reviravolta ao tom surreal, porém incrivelmente realista. Há a aventura da complicação. Isto dividido com espectador, o fazendo de cúmplice, esperando a atenção simbiótica. Posso resumir a atmosfera do filme, citando uma frase dita: “Sem truques de artificio”. O dente separado da atriz a torna mais comum e mais bonita do que a correção dental – pretendida por muitos. Mesmo Alex precisando mostrar o gosto pelas mesmas coisas, as visões existenciais comportam-se diferentes do contexto. É um longa sóbrio, maduro, adulto. “Quando a coisa fica difícil, você amarela”, diz-se no final estimulando o tão esperado final feliz.
Neste caso, é necessário e esperado, sem clichês. Concluindo, um filme que merece ser visto. É inteligente e divertido, mostrado uma faceta diferenciada do novo cinema francês que deseja realizar comédias mais próximas a da Vida Privada de Dante. Recomendo. Algumas curiosidades: o roteirista Laurent Zeitoun teve a ideia do filme a partir de uma situação ocorrida em sua família, quando um primo apaixonado por alguém, que não o tratava bem, contou a história para o tio e ele sugeriu que contratasse um ator para resolver o problema. O clássico de Frank Capra “Aconteceu Naquela Noite” (1934) serviu como fonte de inspiração para os roteiristas. O personagem que toca piano é interpretado por Caroline Duris, que toca de verdade e é irmã do ator Romain Duris, que faz o papel principal. Indicado ao Prêmio CÉSAR 2011 nas categorias Melhor Filme, Melhor Ator – Romain Duris, Melhor Ator Coadjuvante – François Damiens, Melhor Atriz Coadjuvante – Julie Ferrier e Melhor Filme de Estreia.
Ele começou como assistente de direção em 1988 , trabalhando com Luc Besson, em 1996, incluindo “O Quinto Elemento”. Trabalhou para a televisão e fez mais de cem comerciais entre 1997 e 2005. Em 2010 estreou na direção de seu primeiro longa-metragem, “The Heartbreaker”.