Histórias, memórias, lembranças, percepções são contadas
Transcrito por Fabricio Duque
Um debate sobre os cinquenta anos do Festival de Brasília 2017 na mesa mediado com honra por Erika Bauer (de “Don Helder Câmara”), com a cineasta Tata Amaral, o mestre Wladimir Carvalho, o poeta ator Jean Claude Bernardet (“príncipe desencantado”) e a atriz-diretora Marcélia Cataxo (“La Cartaxo que fica na Paraíba cavando água de pedra pra fazer seus filmes”). Temas muito caros. Este debate recomeça com sua semente que começou com a semana do Festival Universitário.
Jean disse “que não lembra nem um pouco dos filmes que passaram na primeira edição. Em dezembro de 1965. Estávamos em um clima de luta, de militância. Este espirito que desenhou este primeiro perfil do festival. Uma operação de luta cultural. O “namorador” Emílio Salles Gomes teve a ideia. E Walter Mello, que sem ele essa semana não teria acontecido. Tendência de pegar esse festival para nós. O clima era jogar filmes pra depois e desaparecer com a cópia, pelo diretor da (Cinemateca do MAM RJ), Cosme. Filme proibido de Joaquim Pedro. As instituições têm uma vida. O festival perde o perfil porque não tem mais a figura do opositor que é a censura. Hoje, de cinco anos para cá, reencontrar uma personalidade”.
Wladimir: “Justificativa pretensiosamente histórica. Prestar uma homenagem a nosso patrono que foi esteiro deste festival, Walter Mello. Defuntos prontos para enterrar na fundação. Voltando à vaca fria, não sou fazendeiro, mas tenho vaca fria. Plateia carente de conhecer a história. Apresentando as credenciais por causa do que vou contar. ‘A Bolandeira’ (seu filme). Sobre a diáspora e em 1970 restaurar o curso regular de cinema. Curso foi abortado dois anos depois de recriado”. Ele descreve, com prolixidade livre, detalhes, adjetivos, definições colóquio-poéticas e com pessoalidade intimista, os causos e as histórias. Fiquei 23 anos. Enxotado duas vezes deste festival por causa de dois filmes. Não me peçam provas materiais, porque não tenho ideia. Isto não é um inquérito. Nós éramos ainda um acampamento.
Marcélia: “Mesa histórica. Cheguei em 1985 com A Hora da Estrela. Tudo era grande. Era gigante. Levamos doze prêmios. Quando fiz meu primeiro filme, achei que ia para Hollywood. Susana estava vindo fresquinha da era dos estúdios. E recentemente Big Jato de Claudio Assis. E uma hona, um sonho, participar do júri oficial, participar da história do cinema. Crescer. E a minha vida. Minha história foi uma história de vitória.
Erika: “Um Festival de afetividades. E agora que as mulheres estão se mostrando mais, é muito importante estar fazendo u filme”.
Tata: “Em 1983, como ouvinte no ECA, porque não tinha passado no vestibular. A Hora da Estrela trouxe de novo um cinema de sucesso. Valorizar novamente o cinema brasileiro. Mario del Pino disse ‘Insiste na questão’. Não era uma mítica de que o público era exigente, intenso, passional e politizado. Ame ou odeie. Aplaudir ou vaiar muito”.
Wladimir: “O politizado é um pouco óbvio, por ser a capital da República. Brasília nasce de um impulso extremamente politico pré-determinado. É a marcha para o Oeste que se consuma. Instaura-se um vínculo, e o JK, a figura que uniu tudo isso. A cidade também nasce quase que do nada. Mais de três milhões de habitantes hoje no meio do cerrado. É uma modificação visceral. Erguer uma cidade que vira isso e criando elementos alinhados como a universidade. É um descrente de ouro. Pompeu de Souza, levanto a voz para ele ouvir lá em cima. Era a nata da nata do Brasil. Darcy Ribeiro na frente. Era uma seleção. Tinha que dar certo. Essa é a nossa plateia. Os que estudam diariamente. Uma seleta plateia ‘Cuca'”
Jean: “Aqui nesta mesa só tem os intelectuais. É uma violência criar heróis. Escrever a história tem que ser plural. Uma história muito distorcida sem se dar conta de uma multiplicidade de fatores.