Curta Paranagua 2024

Clara Esperança

Para os que ficam e para os que virão

Por Paula Hong

Clara Esperança

Uma das mais notórias dificuldades dentro do gênero documentário é conseguir abarcar um assunto em sua integridade ou, no mínimo, abordá-lo com a devida respeitabilidade, de modo que o assunto retratado possa dar conta de oferecer quantidade suficiente de informação. Quando isso é feito através de um curta-metragem, a dificuldade se multiplica. No entanto, Diego Alexandre dá conta de fazê-lo em “Clara Esperança”. Embora o título se refira ao álbum homônimo da grande intérprete mineira Clara Nunes (1942-1983, o filme lança luz sobre quem fica: Maria Gonçalves, irmã de Clara, e a sua pequena — mas não menos significativa — rede de apoio.

O documentário é de formato clássico, alternando entre imagens de arquivo aqui e ali, e entrevistas com quem está diretamente ligado à instituição ou às irmãs. O diretor não arrisca em inovar na estrutura, mas sim pelo interesse em trazer a atenção para quem faz muito com pouco. A contribuição da rede de apoio de Maria Gonçalves reconhece que ela é a peça central da engrenagem que mantém tudo funcionando. No fim, ficamos sabendo que Maria Gonçalves faleceu poucos meses depois de ceder entrevistas para o filme “Clara Esperança”. 

O legado de Clara Nunes é estendido para ações altruístas de Maria. Ela as concretiza pelo impacto positivo na vida de várias crianças da cidade de Caetanópolis, oferecendo apoio aos pais e mães que também frequentaram a creche. Percebe-se a expansão geracional das ações de Maria, cuja repercussão se dá não somente pelo reconhecimento delas, mas também por manter de pé uma instituição que oferece uma outra alternativa de apoio nos primeiros anos de formação de uma pessoa — neste caso, de várias pessoas. Sabe-se que o Brasil não direciona investimentos para instituições públicas com enfoque na educação infantil. Em meio às dificuldades, Maria dedicou a vida inteira em concentrar esforços que mudasse esse cenário, mesmo que local. 

Assim, “Clara Esperança” retrata uma história capaz de encapsular a magnitude embutida na simplicidade — tanto na vida de Maria Gonçalves quanto no formato escolhido pelo diretor para contá-la. O filme tenta dar conta de fazer o mesmo movimento de Maria quando mostra sua dedicação vitalícia em manter viva a memória de Clara Nunes: ambas são eternizadas pelas suas imensuráveis contribuições, nas imagens e nas memórias de quem fica.

3 Nota do Crítico 5 1

Pix Vertentes do Cinema

Deixe uma resposta