Direção: Darren Aronofsky
Roteiro: Mark Heyman, John McLaughlin, Andres Heinz
Elenco: Natalie Portman, Mila Kunis, Barbara Hershey, Vincent Cassel, Winona Ryder, Sebastian Stan, Janet Montgomery, Barbara Hershey, Toby Hemingway, Christopher Gartin, Kristina Anapau, Ksenia Solo, Adriene Couvillion, Marty Krzywonos, Shaun O’Hagan
Fotografia: Matthew Libatique
Música: Clint Mansell
Direção de arte: David Stein
Figurino: Amy Westcott
Edição: Andrew Weisblum
Produção: Brad Fischer, Scott Franklin
Distribuidora: Fox Film
Duração: 113 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2010
COTAÇÃO: MAIS DO QUE EXCELENTE
O Lago dos Cisnes é um balé dramático em quatro atos do compositor russo Tchaikovsky. Sua estreia ocorreu no Teatro Bolshoi em Moscou no dia 20 de fevereiro de 1877, sendo um fracasso não por causa da música, mas sim pela má interpretação da orquestra e dos bailarinos, assim como a coreografia e a cenografia. O balé foi encomendado pelo Teatro Bolshoi em 1876 e o compositor logo começou a escreve-lo. O cisne branco é a personificação da bondade e da perfeição. Enquanto “O Cisne Negro” necessita da maldade intrínseca sem amenizações. É a este universo que o diretor Darren Aronofsky (de “Pi”, “Réquiem para um sonho”, “O Lutador”) mergulha a sua história e por consequência os seus espectadores. Aronofsky já possui a característica cinematográfica de experimentar o existencialismo. Ele usa a técnica conhecida como hip hop montagem, que mostra imagens ou ações com velocidade aumentada, acompanhada de efeitos sonoros, tentando simular alguma ação. Há o processo de entrega total de suas personagens, de fora para dentro. Primeiro, ambienta o mundo exterior para depois aprisionar quem assiste à trama apresentada. É o mestre da manipulação positiva, usando cameras, ângulos, enquadramentos e luz não convencionais. “Pi” é um mergulho nas neuroses. “Réquiem para um sonho”, nas drogas sintéticas (psicotrópicos). E “O Lutador”, no fracasso de um individuo. Este último exemplifica a sua nova produção (como produtor executivo) “O Vencedor”. Em seu último filme, podemos referenciar um pouco de tudo que já Aronofsky fez. Para isto acontecer, escalou a atriz Natalie Portman (espetacularmente incrível). Ela assumiu um desafio, porque precisaria ser inúmeros papéis dentro de si. A boa moça, a malvada, a atriz, a fantasia e a realidade. Natalie consegue com maestria. Está perfeita. “Eu tive um sonho estranho ontem a noite. Dançava o Cisne branco, mas era diferente. Parecia o Bolshoi”, inicia-se logo mostrando a que veio. A camera interage, ora como personagem, ora como observador e ora tentando atrapalhar a cena. Os elementos – espelho, luz, sombra, reflexo – são recorrentes, com uma montagem – ágil e verborrágica – em uma edição elegante e rápida.
Retrata os procedimentos de uma bailarina nos detalhes que se esperam e que seguem, como enfaixar o dedo para que possa ser colocada a sapatilha. A história é explicada pelo diretor do espetáculo, tendo de novo, a interatividade da camera, que passeia com leveza e participa criando a sinestesia do que sente pela personagem. “O cisne branco na morte encontra a liberdade”, diz-se. Percebemos a cobrança, a busca pela perfeição, o querer da superação, mostrando o desejo – e a prepotência – de ser melhor do que outro. Apoiada pela mãe, uma bailarina aposentada, Nina (Natalie Portman) se dedica totalmente à companhia de dança de balé da qual faz parte. A grande oportunidade desta jovem surge quando o diretor artístico Thomas Leroy (Vicent Cassel) procura por uma dançarina para protagonizar O Lago dos Cisnes. Lily (Mila Kunis) tem toda a aptidão para a sensualidade do Cisne Negro, enquanto Nina se mostra ideal para viver o Cisne Branco, inocente e gracioso. Nesta disputa, Nina passa a conhecer melhor o seu lado sombrio, e este autoconhecimento pode ser destrutivo. Aborda-se, pelo realismo fantástico, a introspecção total a este lado mórbido que todos possuem, mas preferem não acordar. Nina dá tudo de si. Até mais do que pode. Baseando-se na busca da melhoria, a destruição (ou liberdade) é iminente. O medo é o limite e precisa ser vencido. Sem “muros”, a entrega é integral. “Está se exigindo demais”, diz-se. Os anseios geram a pressão desmedida desencadeando a loucura (ou real senso de realidade). A narrativa conduz ao ambiente lúdico e real. O Cisne negro é a metáfora da não perfeição, da não vulnerabilidade e de não ser frágil todo o tempo. Vivenciar o escuro é soltar-se e mudar. Assim, estará transformando ela mesma. “A perfeição não é apenas controle”, ensina-se. As interpretações são cúmplices, dando à trama a fluidez de ser convincente. Os simbolismos (viscerais) acontecem – resultados de alucinações (ou psico-sintomatia), como o sangramento, a pele saindo (autoflagelação ou não), ela devasta-se.
As cores sóbrias e estruturais (branco – neve; preto e madeira) conduzem ao aprisionamento de quem está do outro lado do cinema, sentindo uma sensação estranha – talvez por não ter controle de seus sentimentos, daí a manipulação inteligente que o diretor captura. A música intensifica o drama do próprio passo. Não é clichê, porque até a trilha não permite a saída. Nina vive mergulhada no mundo da mãe e nós no da personagem principal. Ela expulsa os demônios (reais) para viver a ficção, que é real. Estranhos acontecimentos, abordados por um roteiro não linear, que pretende a confusão. Assim, Nina segue vencendo as limitações. A vida imita a arte. A história do cisne é vivenciada de forma realista e crível. Os tormentos quebram as barreiras, com visões e incursões a fantasia e do que acontece na verdade. Tudo pela perfeição e pela liberdade. Concluindo, é um filme que arrebata, tanto pela interpretação impecável de Natalie quanto pela maneira que a narrativa é apresentada. É excelente. A perfeição existe. Recomendo. Natalie ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Globo de Ouro deste ano e está indicada ao Oscar 2011. O filme concorre ainda em Melhor Filme, Melhor Diretor – Darren Aronofsky, Melhor Fotografia e Melhor Edição. Algumas curiosidades envolvendo o filme. O ator Vincent Cassel comparou seu personagem com George Balanchine, um dos fundadores do New York City Ballet. Segundo Cassel, Balanchine era “um verdadeiro artista, que tinha um controle neurótico e usava a sexualidade para comandar seus bailarinos”. Cisne Negro foi o filme de abertura do Festival de Veneza 2010 e orçado em 17 milhões de dólares. O nome da atriz Meryl Streep chegou a ser cogitado para viver Erica, mas o personagem ficou com Barbara Hershey (a mãe). Blake Lively fez testes para o papel de Lilly, mas foi Mila Kunis quem acabou levando. A sugestão por Kunis, inclusive, foi de Natalie Portman. Para as cenas de sexo mais fortes entre os personagens de Portman e Kunis (muito amigas na vida real), as duas sugeriram uns copos de drinques para quebrar o “gelo”. Uma garrafa de tequila foi providenciada e foi reservado um dia e meio para filmar a sequência.
Darren Aronofsky nasceu em Nova York, 12 de Fevereiro de 1969. Após concluir o Ensino Médio, foi para a Universidade de Harvard estudar cinema, interpretação e animação. Em 1990 dirigiu “Supermarket Sweep” e em 1993 dirigiu “Protozoa”, ambos filmes estudantis – nunca distribuídos; Em fevereiro de 1996 começou a criar o conceito de seu primeiro longa π (Pi), lançado em 1998. Com ele, ganhou o prêmio de melhor diretor do Festival Sundance de Cinema, o que lhe gabaritou para dirigir um projeto maior. Por um tempo o seu nome esteve ligado a adaptação de uma Graphic novel de Frank Miller, chamada Ronin, mas o projeto acabou não vingando. Depois disso, dirigiu o bem recebido pela crítica, “Requiem para um sonho” em 2000, estrelado por Jared Leto, Ellen Burstyn, Jennifer Connelly e Marlon Wayans. A trama, adaptada de uma obra homônima escrita por Hubert Selby Jr., foi fundo na questão das drogas, ilícitas ou não. Por esse filme, Ellen Burstyn obteve uma indicação ao Oscar na categoria de Melhor Atriz. A marca registrada de Aronofsky é uma técnica conhecida como hip hop montage. Essa técnica mostra imagens ou ações mais com velocidade aumentada, acompanhada de efeitos sonoros, tentando simular alguma ação.
Dirigiu ainda o filme “O Lutador” com Mickey Rourke. Darren Aronofsky já casou com a atriz britânica Rachel Weisz de 2002 a 2010. Eles se conheceram durante as filmagens “A fonte da vida”, de 2006.