Chamando os Ventos: Por Uma Cartografia dos Assobios
O tempo e o vento
Por Pedro Guedes
Durante a Mostra Sesc de Cinema 2019
“Chamando os Ventos: Por Uma Cartografia dos Assobios” é uma obra sobre… vento. Sim, é possível torcer o nariz para uma premissa como esta: como uma ideia que gira em torno de tão prosaico pode despertar o interesse do espectador e sustentar um filme inteiro? Felizmente, o trabalho dirigido por Marcelo Rodrigues se apresenta simpático o suficiente para manter (e merecer) a atenção do público – além disso, a projeção em si dura apenas quatorze minutos, fazendo o espectador nem ter tempo de ficar cansado do que está vendo (se o filme durasse duas horas e ainda falasse só sobre vento, aí seria mais complicado).
Construindo um ritmo calmo e reflexivo que busca relaxar o público o bastante para fazê-lo embarcar nos depoimentos narrados em off, “Chamando os Ventos: Por Uma Cartografia dos Assobios” se revela um eficiente exercício de poesia, dando um significado particular a um mero fenômeno da Natureza – neste sentido, é interessante que o curta convide diferentes pessoas para dizerem o que pensam sobre o vento e sobre como interagiam com este através, por exemplo, de assobios. Para os personagens, o deslocamento de ar não é apenas um conceito que existe por existir, mas uma espécie de signo.
Aliás, a direção de Marcelo Rodrigues acerta ao restringir o “olhar” da câmera para o céu, deixando as projeções da superfície (como casas, folhas de árvores, pipas etc) para o canto inferior da tela. Desta maneira, o cineasta determina que, mesmo situados no chão, os personagens estão concentrados no que está lá em cima, nas nuvens – e cabe ao espectador olhar também para elas a partir das imagens que lhe são apresentadas. No fim das contas, “Chamando os Ventos: Por Uma Cartografia dos Assobios” tinha tudo para se tornar aborrecido e desinteressante, mas acaba funcionando de forma surpreendente e espontânea.
1 Comentário para "Chamando os Ventos: Por Uma Cartografia dos Assobios"
Gratidão, pedro Guedes! Fico muito lisonjeado com seu texto. Grande abraço!