Caruatá – Vejo o Lugar Que Me vê
Ressignificação
Por Chris Raphael
Festival Estação Virtual
A película em questão, intitulada “Caruatá – vejo o lugar que me vê”, é auto explicativa a partir de um objetivo contextual criado pelo autor. O diretor de fotografia e cineasta Walter Carvalho assina a direção deste curta-metragem, cuja filmagem aconteceu em 2019. Paraibano de nascimento, o diretor busca inserir-se no contexto local deixando visível sua marca sem tirar, no entanto, o protagonismo do lugar. Enquanto tenta copiar a atmosfera do sertão, reacende a tentativa de ressignificação filosófica.
Através da frase de Goethe citada no início do filme, ”Na natureza nunca vemos nada isolado, mas tudo é em conexão com alguma coisa que está diante, ao lado, sob e sobre ela”, toda a conexão fica estabelecida nesta sugestão imagética de ressuscitar a aridez do lugar em si.
A beleza do local solitário e a paisagem agreste não deixa dispersar nosso pensamento acima do esperado nem restringe a expectativa visual do público. Ao invés disso, carrega uma sensação de finitude, deixando a obra fluida e maleável.
Enquanto muda sua visão do mundo, o autor é modificado por ela e este apelo visual fica nítido ao concluir sua marca na parede, numa tentativa de fazer a vida imitar a arte natural, que remete ao não conformismo.
Ao assistir o desenrolar do filme, fica martelando na mente do público inquietante pensamento plural de mudança: mudança de ares,de paisagens, de afetos e, porque não dizer, de sentido. Aquilo que chega de maneira avassaladora, a anunciação do novo, a brisa do inefável.
E talvez sejam estas as inquietações que Walter Carvalho gostaria de dividir com a plateia em “Caruatá – vejo o lugar que me vê”, mirando diretamente no sentimento do expectador: uma não aceitação da letargia, uma dispensa completa da fadiga e do cansaço diário do significado óbvio das coisas, oferecendo uma alternativa à ação do tempo sobre tudo que é vivo. Mesmo em meio às ruínas de uma construção parcialmente destruída, diante, ao lado, sob e sobre os escombros, podemos (e devemos) tentar extrair o caldo primordial da vida.