
Canal Brasil promove o lançamento da série sobre a banda Secos & Molhados na 49ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Para apresentar a série que teve exibição para o público na Cinemateca, o Canal Brasil promoveu uma sessão com os dois primeiros episódios para a imprensa, seguida de um debate com Ney Matogrosso
Por Clarissa Kuschnir
Dentro da programação eclética deste ano da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, houve dois lançamentos que fogem do cinema autoral de filmes premiados em festivais internacionais ou obras mais papo cabeça. E eu acho ótimo os festivais se abrirem nestes tempos em que os cursos de cinema têm como o foco o audiovisual que engloba além do cinema, programas de TV, de internet, videoclipes, e até games. E a Mostra não ficou para atrás, pois sabe que estes conteúdos atraem espectadores de diferentes universos para o evento. No segundo final de semana a Mostra teve a exibição do documentário “Se Feliz Por Nenhum Motivo”, de Edu Felistoque, que faz parte da plataforma de vídeos on demand Aquarius (focada muito na saúde mental e nas questões ambientais) que fala sobre a importância da prática da meditação e de pequenas pausas no dia a dia, nos grandes centros. O segundo lançamento foi a pré-estreia mundial da série documental “Primavera nos Dentes – A História do Secos & Molhados”, dirigida por Miguel de Almeida, distribuída pelo Canal Brasil e produzida em parceria com a Santa Rita Filmes. Para apresentar mais sobre a série que teve exibição para o público na Cinemateca, o canal promoveu uma sessão com os dois primeiros episódios (no total são quatro) para a imprensa, seguida de um debate com praticamente quase toda a equipe da obra, (incluindo Ney Matogrosso), mediado pela apresentadora Simone Zuccolotto.
“Boa tarde a todos e todas. Estamos comemorando a estreia de “Primavera nos Dentes – A História do Secos & Molhados”. Olha esse palco em peso. É incrível né? O Canal Brasil há quase três décadas registra, produz, divulga e exibe a cultura e o cinema brasileiro através das séries, programas e de uma série documental tão importante para a gente. Essa banda, ela traz um debate para a gente sobre a liberdade que na década de 70 brigava contra a Ditadura Militar. Ela foi um exemplo de liberdade de expressão individual e política. Então para a gente que sabe que essa é uma arte de verdade, ela transcende o momento e vai para as próximas gerações. Então, olha a importância. Eu queria agradecer a presença de vocês e estou muito honrada de estar ao lado dessas pessoas incríveis e exemplos para o Brasil”, disse Gesiele Vendramini, gerente de marketing e negócios do Canal Brasil, ao abrir a coletiva.
Além de Ney Matogrosso a mesa foi composta pelo diretor Miguel de Almeida, o produtor Marcelo Braga, o compositor Paulo Mendonça, o ex-integrante da banda Gerson Conrad e os músicos Emilio Carrera e Willy Verdaguer, que também fizeram parte do Secos & Molhados como músicos e instrumentistas. O único que ficou de fora e que não topou de jeito nenhum participar da série foi João Ricardo, que inclusive também não aceitou que as músicas fossem colocadas na série, o que não impediu de serem feitas novas composições para compor a trilha. E eu acho uma pena, apesar da série ser bem interessante do ponto de vista histórico, incluindo imagens de uma época que ao mesmo tempo sofria com um ditadura, mas vivia uma efervescência cultural, principalmente na música brasileira. A série ainda traz várias cenas de filmes como “A Mulher de Todos” e “O Bandido da Luz Vermelho” de Rogério Sganzerla (com falas de Helena Ignez), depoimentos das cantoras Ana Caña, Duda Brack, do produtor musical João Marcelo Bôscoli, da escritora e professora Maria Silvia Betti, Frejat, entre outros nomes importantes da nossa música, além de cenas da peça de teatro o “Rei da Vela”, encenada na década de 70, pelo Teatro Oficina. Mas, para quem conhece as músicas do grupo, fica quela vontade de ouvir as canções originais.
Inspirada no roteiro do livro homônimo de Miguel (que também é jornalista e escritor), ele deixou claro que a série e o livro são praticamente o mesmo projeto e que o livro merecia este registro, justamente porque os Secos & Molhados foi um grupo que durou pouco (menos de 2 anos), teve dois álbuns, porém vendeu mais de 1 milhão de discos e passou pela música brasileira como um fenômeno. E na realidade não era só isso, pois eles foram muito importantes do ponto de vista político e cultural no Brasil, naquele momento e que o grupo surgiu trazendo a liberdade e individualidade.
“Eu achava que os Secos & Molhados mereciam este registro porque ao contrário dos demais da época, eles podiam ser chamados de espetáculo musical. Vivíamos na época do banquinho e um violão e Os Secos & Molhados principalmente com o Ney Matogrosso introduz essa ideia do espetáculo musical com a persona musical. Ali não só não tínhamos Ney, nem Gerson nem João Ricardo, nós tínhamos três personagens que estavam vivendo uma história e levando uma viagem onírica para o público. E só para terminar, os Secos & Molhados colocava na macarronada de domingo da família, a questão da sexualidade. O público identificava o grupo como se fosse algo andrógino. Que fosse, e cada um tinha uma interpretação. E apesar de se falar que o Brasil é um país conservador, o grupo era abraçado pelas crianças e pelas mulheres”, concluiu Miguel sobre o grupo e o projeto.
Em relação a questão de não poder usar as músicas, a série já estava praticamente pronta (demorou quatro anos) e a produção teve que mudar o conceito, por causa das canções. E foi a partir dali que tiveram a ideia de juntar os músicos reunidos depois de 50 anos, sendo criadas 7 canções para que pudesse se sonorizar a série, trazendo o mesma essência que eles fizeram nos anos 70. Ou seja, são canções novas, sendo consideradas assim pelo diretor, como o terceiro álbum dos Secos & Molhados. Segundo Miguel, no livro João Ricardo deu vários depoimentos, mas na série, ele quis se ausentar. E isso está bem explicito em legendas na série. O que fica mesmo, são os depoimentos dos participantes sobre ele, relembrado pelos companheiros de banda.
“Fizemos eu e Emilio, compomos essa trilha e eu não fui buscar em lugar nenhum. A trilha fluiu apenas naturalmente. Foi saindo sempre do jeito que sempre saiu. É uma satisfação enorme participar disto tudo”, disse Willy Verdaguer, sobre essa nova trilha.
Emilio complementou que são muitas recordações e coisas boas que ajudaram e que é uma alegria, estar fazendo parte deste momento. E todos eles endossaram que fizeram agora, tudo o que faziam antes. E que saiu tudo de uma forma muito natural. Inclusive, uma das músicas que tinha sido engavetada por Gerson Corand em 1973, ele teve a oportunidade de aproveitar agora.
Para Ney foi uma coisa muito normal representar uma nova composição, pois ele sabia desde o começo que a história do livro, seria transformado em algo mais. E estar com eles, era uma coisa normal, pois passaram alguns anos na estrada.
“É um momento engraçado, porque eu achei que 50 anos depois eu achava que ninguém mais iria lembrar, mas está tudo certo. Eu acho que vai dar tudo certo e a pessoas vão gostar”, enfatizou Ney Matogrosso, que disse que continua cantando as músicas de Secos & Molhados em seus shows, sempre com um repertório variado.
“Eu quero destacar uma coisa aqui. Eu vi esses dois capítulos e estava com medo de uma coisa, de que alguém estivesse falando mal de alguém. Não tem, isso não existe. Foi um outro passo dado mesmo, porque eu me sentiria mal de fazer parte de um projeto para falar mal de alguém, e não é o caso. Lamentamos não ter as músicas que são todas maravilhosas e continuaram sendo, mas, resolvemos de uma outra maneira, que também está muito bom. Eu quando vi, eu percebi que tinha umas vinhetas e pensei, que realmente parecia os Secos & Molhados”.
E que esse trabalho reverbere para que essa história nunca se apague e que novas gerações, possam conhecer essa banda que foi um fenômeno, da nossa música brasileira.
A série entrou no ar pelo Canal Brasil no dia 31 com episódios todas as três sextas-feiras seguintes, sempre às 21h30.


