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Caminho da Liberdade


Ficha Técnica

Direção: Peter Weir
Roteiro: Keith R. Clarke, Peter Weir, baseado na obra de Slavomir Rawicz
Elenco: Colin Farrell, Jim Sturgess, Dejan Angelov, Dragos Bucur, Ed Harris, Mark Strong
Fotografia: Russell Boyd
Música: Burkhard Dallwitz
Direção de arte: Kes Bonnet
Figurino: Wendy Stites
Edição: Lee Smith
Produção: Duncan Henderson, Joni Levin, Nigel Sinclair, Peter Weir
Distribuidora: Califórnia Filmes
Estúdio: National Geographic Films, On the Road, Point Blank Productions
Duração: 132 minutos
País: Estados Unidos
Ano: 2010
COTAÇÃO: ENTRE O BOM E O MUITO BOM

A opinião

“Em 1939, Hitler invadiu a Polônia pelo Oeste. Dias depois, Stalin invadiu pelo leste. Assim dividiram o país entre eles”, com essa explicação, inicia-se o filme “O Caminho da Liberdade”, dirigido por Peter Weir, (de “O Show de Truman”, “Sociedade dos poetas mortos”). A guerra é apenas o pano de fundo. E é usada para que se possa contar uma história sobre superação, já que é baseado nas memórias de Slavomir Rawicz ao fugir de uma prisão na Sibéria e percorrer cerca de 6.400 km até chegar à Índia. Não se pode negar que o diretor australiano adquiriu vícios cinematográficos hollywoodianos e também não há como afastar o tom de moralismo e patriótico americano.

Porém, a forma como Peter trabalha em seus filmes mitiga os clichês, os usando. Ele é mestre na arte de manipular o sentimento, a emoção e a profundidade necessária da situação apresentada. Logo nas primeiras cenas, no campo de concentração, o espectador ouve “Bondade pode te matar aqui”. Até então ninguém tinha conseguido fugir desses lugares, mas foi só aparecer um americano, que o poder da pátria tornou-se soberano. Há tipos analisados pelas características intrínsecas: o americano egoísta, o jovem bondoso, o briguento, o cego parcial, o artista, o homem engraçado e a menina perdida.

Os diálogos são limpos e politicamente corretos. “Gosto de poloneses, tem senso de injustiça inflamado. Mas Stalin não gosta de estrangeiros, nem de poloneses”, diz-se. A narrativa exprime uma violência, manipulando o sentido da realidade. Os guardas são apresentados como incompetentes, impedindo tiros e revidadas por sentimentos benéficos. As reviravoltas – e revoltas – são maquiadas e fáceis, como por exemplo a fuga que mais parece crianças escondendo-se de seus pais. Mas como disse, não é um filme sobre a guerra, e sim sobre a trajetória que esses homens passarão a fim de fugir pelo Himalaia. O longa é dedicado a eles.

Continuando, a visão americana, já absorvida pelo diretor “estrangeiro”, tenta a todo custo suavizar a violência, transformando o sofrimento em não sôfrego. A mensagem de superioridade que fica logo de cara: americano pode tudo, até sobreviver a mais pesada das batalhas. Embora tudo que disse, o longa possui muitos méritos, vamos a eles. Um deles e o mais importante é a interpretação visceral de Colin Farrel, que está entregue totalmente ao papel, caracterizado de sobrevivente do submundo o qual vivia. Colin sem dúvidas é o que leva o espectador ao cinema. “Não saberia o que fazer com a liberdade”, diz-se.

O roteiro infere, sutilmente, metáforas. O simbolismo da menina misteriosa, o pé machucado, a proteção para a cabeça de ninhos de passarinhos, o sol escaldante do deserto, as miragens, tudo cria a transfiguração de Cristo, que veio para salvá-los. São andarilhos buscando a sobrevivência, mas seguindo princípios sociais. “Sobrevivência é a minha forma de protesto”, diz-se. Eles andam, andam, sem saber para qual lugar ir. Não tem direção. Só desejam a vida que possuíam antes. Neste momento, quem assiste está completamente atento à trama.

Outro elemento positivo também envolve a interpretação. Os coadjuvantes e principal (Jim Sturgess), incluindo a excelente menina Irena (Saoirse Ronan – comemorou seu aniversário de 16 anos nas filmagens), complementam o time realizando um incrível trabalho. Concluindo, um filme que mistura narrativas, equilibrando o gênero escolhido. Não tenta ser o que não é. O próprio longa respeita-se desde o início. Por isso, vale a pena assistir. Recomendo. Indicado ao Oscar 2011 de Melhor Maquiagem. As filmagens ocorreram entre fevereiro e junho de 2009.

O Diretor

Peter Lindsay Weir (Sydney, 21 de agosto de 1944) é um diretor de cinema e roteirista australiano. Depois de uma educação tradicional, Weir estudou Arte e Direito na Universidade de Sydney. Interrompeu os estudos para fazer uma viagem à Europa e, quando voltou à Austrália, estava determinado a trabalhar no mundo do espetáculo. Assim, em 1967, ingressou na Televisão e aí foi-lhe dada uma oportunidade para realizar dois pequenos filmes que tiveram grande sucesso. Em 1971 foi-lhe confiada a realização de Michael, que fazia parte de um filme de três episódios intitulado Three to go. Mas só em 1974 conseguiria dirigir a sua primeira longa-metragem (The Cars That Ate Paris) e, no ano seguinte, realizaria o filme que o haveria de tornar conhecido em todo o mundo: Picnic at Hanging Rock. O seu primeiro filme realizado nos Estados Unidos foi A Testemunha, em 1985.

Filmografia

2010 – Caminho da Liberdade
2003 – Mestre dos Mares: O Lado Mais Distante do Mundo
1998 – O Show de Truman – O Show da Vida
1993 – Sem Medo de Viver
1990 – Green Card – Passaporte Para o Amor
1989 – Sociedade dos Poetas Mortos
1986 – A Costa do Mosquito
1985 – A Testemunha
1983 – O Ano Que Vivemos em Perigo
1981 – Gallipoli

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