Câmera Close!
Um close em Jorge Loredo
Por Julhia Quadros
O curta metragem “Câmera Close!” (2005), primeiro filme dirigido por Susanna Lira, retrata a vida e a obra do comediante Jorge Loredo, criador da célebre personagem Zé Bonitinho, que se tornara uma figura bastante popular na televisão e no cinema brasileiros. O tipo encarna a imagem do homem galanteador, que flerta com diversas mulheres e acredita ser irresistível aos olhos delas, tendo, porém, um impacto oposto e se tornando motivo de risadas e piada por parte delas e do público. Ele é uma crítica aos homens que se têm em alta conta em relação às conquistas, são extremamente vaidosos e não enxergam o quanto desagradam às mulheres ou simplesmente, não as seduzem. Como é pontuado no filme, os homens se divertem, pois enxergam em Zé Bonitinho algum amigo ou conhecido que tem esta atitude, as mulheres por se sentirem vingadas pelo olhar ridículo para a vaidade dos homens no momento da conquista e as crianças por acharem engraçadas as situações vividas pela personagem. O título da obra, “Câmera Close!”, é uma referência a uma fala constante do conquistador, buscando ser sempre o centro das atenções, o foco das câmeras, não admitindo um enquadramento mais aberto que o close-up. Zé Bonitinho, mais que um conquistador, é um Narciso que é apaixonado pela própria imagem e está sempre ajeitando e retocando o próprio visual.
Loredo, quando tem a ideia para criar o tipo, se inspira em um conhecido e conversa com Chico Anysio sobre a ideia de utilizá-lo como modelo, o que ele elogia e comenta que na criação de uma personagem, a inspiração inicial some e o produto final se torna algo completamente original e é o que ocorre com Zé Bonitinho, que só tem de seu conhecido a apresentação de si mesmo como “O perigote das mulheres”. Charles Chaplin também utiliza diversos modelos do cinema e da palhaçaria para chegar à síntese do vagabundo Carlitos, que tem diversos momentos e especificidades ao longo do desenvolvimento da carreira do cineasta. Da mesma forma, Loredo cria sua personagem e cresce junto a ela, enquanto define e aprofunda sua personalidade; Zé Bonitinho é um tipo semelhante ao conquistador interpretado por Zé Trindade no cinema e ganhou espaço e fez bastante sucesso no programa A Escolinha do Professor Raimundo. Ele é representado sempre flertando com belas mulheres, gerando situações cômicas, como o fato de elas decidirem ceder às investidas e ele recuar no momento ou ele falar em um microfone e cantar, parodiando os galãs do Cinema e do Rádio no momento.
“Câmera Close!” traz, também, a vida do ator Jorge Loredo, a pessoa por trás da personagem. Ele revê a carreira e a relação com os tipos que cria, bem como participações em filmes independentes, como “O Abismu” e “Sem essa Aranha”, de Rogério Sganzerla, e “Tudo Bem”, de Arnaldo Jabor. Zé Bonitinho passa a ser um tipo explorado em diversas esferas do audiovisual brasileiro, o que dá ao ator a oportunidade de aprimorar sua criação. Com um semblante diferente de sua criação, Loredo vê uma parte de si em suas personagens, acreditando que elas têm um pouco de si. Vê o Zé Bonitinho como uma oportunidade de se vingar das mulheres que o desprezaram no passado. Ao fim da obra, ele realiza seu sonho de ser regente de orquestra, através da interpretação, com o último plano em um teatro, evocando o ofício da atuação e eternizando suas vontades e visões artísticas.