Curta Paranagua 2024

Brotherhood

Conflitos Inevitáveis

Por Jorge Cruz

Brotherhood

Curta-metragem selecionado para Festival de Sundance de 2019, “Brotherhood” é tímido em suas pretensões, utilizando uma impactante representação final como aposta máxima de suas intenções. Expediente comum para curtas-metragens e ideal para a temporada de premiações. Não à toa o filme foi indicado ao Oscar 2020 em sua categoria.

A base da história é simples, com uma família refugiada síria que tenta retomar uma rotina humilde em outras terras. Malek (Malek Mechergui), primogênito, surge como o filho pródigo nos primeiros minutos. Após uma temporada em seu país de origem, motivado pela revolta juvenil, ele ressurge com uma esposa grávida, Reem (Jasmin Lazid). De burca, a adolescente não mostrará nenhuma parte do corpo, à exceção dos olhos, até que se sinta minimamente à vontade. Essa simplificação de trama se converte em tratativa corriqueira das fricções sociais e culturais daquela comunidade. Limitando o campo de visão ao jovem casal, aos filhos mais novos e aos pais Mohamed (Mohamed Grayaâ) e Salha (Salha Nasraoui), a produção se aproxima de um conto familiar pouco instigante.

Claro que “Brotherhood” não deixa de trazer suas questões, como o estranhamento entre mulheres e o patriarcado imposto do inseguro Mohamed. A câmera da diretora Meryam Joobeur não se permite um olhar direto sob o corpo feminino, quase sempre perdendo o foco com rapidez. Em um ambiente cheio de traumas e cicatrizes, o caminho do arrependimento para a admissão de que o outro está certo é lento. A gradatividade é potencializada quando estamos entre familiares, onde o amor sem escolhas nos coloca em delicadas situações. Contudo, o microcosmo nuclear da história é pouco revelador e esclarecedor.

Joobeur, nascida na Tunísia e atual estudante de Cinema na Universidade de Concordia em Quebec, parece ter encontrado, ainda jovem, seu ofício de cineasta. “Brotherhood” foi reconhecido como melhor curta-metragem pelo público do Festival de Montreal em 2018, local onde a diretora se estabilizou. Porém, o roteiro – cunhado pela mesma – objetiva a criação de um impacto melodramático que não casa com a estética melancólica. É quase como se a produção fosse um exercício de mais um longa-metragem dito de arte feito sob medida para os grandes festivais europeus. A formulação acontece em favor da única mensagem de que as pessoas próximas podem desaparecer a qualquer momento. Exagera na representação sensacionalista ao conceder uma informação guardada como único ás na manga de seu texto, chegando mais próximo de uma edição de programa do João Kleber do que da pequena tragédia grega que gostaria de ser.

2 Nota do Crítico 5 1

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