Direção: Jane Campion
Roteiro: Jane Campion
Elenco: Abbie Cornish, Ben Whishaw, Paul Schneider, Kerry Fox
Fotografia: Greig Fraser
Montagem: Alexandre de Franceschi A.S.E
Música: Mark Bradshaw
Produtor: Jan Chapman
Produtora: Pathé
Duração: 119 minutos
País: Reino Unido, Austrália
Ano: 2009
COTAÇÃO: ENTRE O REGULAR E O BOM
Londres, 1818. Um caso de amor secreto se inicia entre o poeta inglês John Keats, de 23 anos, e sua vizinha Fanny Brawne, uma estudante de moda. Os dois não se dão bem, mas quando ela descobre que ele cuida do irmão mais novo, seriamente doente, se oferece para ajudá-lo. Sua bondade toca Keats que, em troca, concorda em ensinar-lhe poesia. Intensamente envolvidos, os jovens amantes são tomados por poderosas sensações. Juntos, eles criam uma onda de obsessão romântica que cresce na mesma progressão de seus problemas. Até que Keats fica doente, e o problema se mostra intransponível.
Os detalhes comportam-se como personagens, que complementam e direcionam caminhos a seguir. Inicia-se com closes, muito próximos, de um tecido sendo bordado. Outro elemento que faz parte da trama é a poesia em si, utilizando diálogos irônicos em picardias afiadas e ingênuas, quase agressivas, dramáticas e passionais. A atmosfera da história não convence. Apresenta-se artificial, superficial e pretensiosa, por tentar fazer com que o espectador aceite sem questionar-se sobre a profundidade de seus personagens. Não há uma linha de equilíbrio. Ou excede ou omite, sempre em tempos adversos. As conversas caricatas e teatrais, como a parte que completam poemas.
“Os poemas são um convite à exaustão”, diz-se. O ponto alto do filme é a parte técnica. Os figurinos ambientam uma linguagem pop realista. A camera, e os seus enquadramentos, não se esquecendo da fotografia, inovam, surpreendentemente. Há a cena da irmã (excelente em sua interpretação) de Fanny jogando pedras na água; o vento na cortina com a claridade nostálgica de uma mulher apaixonada; o sol no topo da árvore; os adultos brincando de estátuas; o cultivo de borboletas; o cabelo cortado como lembrança.
“Esperança e resultados são diferentes. Uma não cria necessariamente a outra”, diz-se. Os conflitos impõem rapidez para serem resolvidos. Pula-se de tempo em tempo, confundindo a trama. “A construção poética é uma carcaça. Uma farsa”, diz-se, realizando a intenção de criticar algo intrínseco no longa. Keats explica a sua arte a Fanny, que a poesia conforta a alma para aceitar o mistério.
“Olhos castanhos como um baú”, diz-se com deboche. Em muitos momentos a sutileza é omissa. Utiliza-se o estilo folhetinesco da época. Traduz o romance platônico. O gosto pelo sofrimento. Quanto mais se sofre, mais se ama. Uma das características do Romantismo. Bucólico. Angustiante. “Viver como borboletas três dias no verão”, diz a ela, escolhendo o pouco tempo de alegria a uma vida inteira sem a presença da amada. Contrastando com a ideia apresentada, ele some e resolve viver longe dela.
“É muito difícil se desapegar de alguém”, resume-se a história. “O toque tem uma memória”, finaliza-se. Aguarde até os créditos finais, há a íntegra de um poema de Keats, declamado pelo protagonista. É uma novela, inferindo que foi realizada para televisão. Diálogos sem conteúdo. Com elementos óbvios, mas com uma excelente parte técnica.
Nasceu em Wellington, Nova Zelândia. Começou sua carreira no cinema nos anos 80, quando cursou a Escola Australiana de Cinema, Rádio e Televisão de Sydney. Peel (1982), seu primeiro curta-metragem, venceu a Palma de Ouro no Festival de Cannes em 1986. Em 1989, dirigiu “Sweetie” (1989), seu primeiro longa-metragem, selecionado para a competição oficial de Cannes. Em 1990, dirigiu “Um Anjo em Minha Mesa”, filme originalmente feito para TV, mas exibido no mesmo ano no Festival de Veneza, onde venceu sete prêmios, incluindo o Leão de Prata. Em seguida, dirigiu “O Piano” (1993), que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes, sendo a primeira mulher na história a receber o prêmio. O filme também emplacou nove indicações no Oscar de 1993. Entre seus outros trabalhos estão os filmes “Retrato de uma Mulher” (1996), “Fogo Sagrado” (1999) e “Em Carne Viva” (2003).