As Mostras Regionais e seus potenciais de formação de público no Goiânia Mostra Curtas 2025

Goiânia Mostra Curtas 2025

As Mostras Regionais e seus potenciais de formação de público no Goiânia Mostra Curtas 2025

Dentro da programação da 23ª edição o festival trouxe mostras paralelas (duas delas competitivas) em que o público pode conferir durante a semana

Por Clarissa Kuschnir

Dentro da programação da 23ª edição do Goiânia Mostra Curtas o festival trouxe mostras paralelas (duas delas competitivas) em que o público pode conferir durante a semana. Primeiro as regionais ou a chamada Mostra Curta Goiás que trouxe um panorama do que se está fazendo no estado, que tem se mostrado com uma boa safra de curtas. Na matéria anterior, eu falei sobre a parte 1 da mostra. Já a segunda parte do programa da curadoria de Fábio Rodrigues Filho intitulado de “Nas Formas, os Tempos” foram exibidos seis títulos que foram: o experimental “TV Insônia”, de Diego Robert, “Canto”, de Danilo Daher, a animação “Entressonho” de Leandro Pimentel, o documentário, “O Lado que a Cidade Não Vê”, de Thomas Toledo; “Desta Terra Não Viverei” de Lidiane Reis e Chica Machado, de Renata Rosa Franco. Entre os títulos, destaque para “Entressonho” (único que também fez parte da mostra competitiva nacional) em que o realizador mergulha no universo dos sonhos através de um personagem que sofre de insônia e que quando dorme viaja pelos mais diferentes mundos através de seu subconsciente, que o leva a misturar uma série de emoções. É uma animação muito bem-feita com diversas referências, inclusive do filme infanto juvenil “A História Sem Fim”. Ou seja, no sonho tudo é possível viver, e muitas vezes eles nos apontam outras perspectivas para pensar na vida. Outro filme que me chamou a atenção desta mostra foi “O Lado que a Cidade Não Vê”, que se desdobra na realidade de pessoas trans, durante suas rotinas profissionais. O filme mostra bem a luta de resistência desses personagens para serem aceitos em meio a uma sociedade tão conservadora. O documentário “Chica Machado – Rainha de Goyaz” é outro interessante retrato sobre a personagem homônima do título que chegou escravizada no estado por volta de 1950 e conseguiu lutar pela liberdade de seu povo, lembrados até hoje principalmente no povoado de Cocal, distrito de Niquelândia, que fica a cerca de 300 quilometro de Goiânia.

Já a Mostra intitulada de Programa Falando em Línguas, vendo em vistas(de) colonialidades e (des)enquadramentos que tem a curadoria da jornalista, critica e pesquisadora Mariana Queen Nwabasili se mostrou potente com títulos experimentais de diversas gerações focadas na colonialidade, ou como conhecemos através da história o poder a hierarquia vindas da Europa, que dominou diversas regiões trazendo divisão de classes, raças e valores muito diferentes, de seus colonizados. E esses filmes trazem uma visão do descolonizar com títulos como: “O Parto”, de Celso Luccas e Zé Celso Martinez, obra de 1975; os mais recentes “A Morte Branca do Feiticeiro Negro “, de Rodrigo-Ribeiro-Andrade, único filme que eu conhecia da mostra e que acho um exercício muito rico de linguagem; “Exercício de Arquivo de Abiniel João Nascimento, O Verbo se Fez Carne”, de Ziel Kapotó, “Entenda o Processo Colonial em Cinco Minutos – O Julgamento do Homem Colonial pelos Condenados da Terra”, de Ana Julia Travia, “Construção de Uma Vista” de Fábio Andrade, “Cinema de Preto de Dandara” em que a cineasta fala entrevista o artista Abadias do Nascimento, falecido em 2011 e o “SRTV043 – Trecho da Entrevista com Beatriz Nascimento”, de 1979. A Mostra que foi dívida em três partes encerrou com o “Pe Ataju Jumali – Ar Quente – Hot Air”, de Margarita Weweli-Lukana e Juma Pariri.

“É um pouco estranho falar muito porque os filmes já falam por si. A força é dos filmes. Sou de uma linha de curadores em que nós temos que aparecer bem menos que os filmes e os diretores, e fazer a obra dos diretores e diretoras serem exibidos da melhor forma possível. Mas tem uma questão aqui desta mostra especial que é convidar o curador a fazer e aí quero muito agradecer a Maria Abdala pelo convite e pelo acompanhamento atencioso e a paciência comigo, até conseguirmos fechar toda a programação. E acho que é bonito e raro muitas vezes podermos assinar uma curadora sozinha e com uma pegada tão sua e individualmente. Então não quero falar muito antes da sessão para não contaminar a visão de assistir aos filmes. O que vocês vão ver faz parte da minha trajetória estudando o cinema contemporâneo e filmes mais antigos. Vocês vão ver parte de uma investigação minha vinculando então, o que é muito comum fora do Brasil. Vamos passar uma tarde juntos vai ser especial. Então, espero que bata para vocês essa experiência. Mas é uma experiência que tem abertura dessa persistência. O ideal é ver tudo, mas como expectadores emancipados, podem fazer o que quiserem. E isso é uma forma de desconstrução, inclusive para a nossas posicionalidades muito rígidas para apreciar o cinema. Estes todos são os questionamento e a proposta da questão”, disse Mariana Queen Nwabasili ao abrir a sessão para o público presente.

Para fechar as mostras, Goiânia Mostra Curtas 2025 pela primeira vez montou o Curta Mostra Origens – Curtas Universitários Goianos, que tem a curadoria do professor Elinaldo Meira, que apresentou a primeira parte com os seguintes títulos:

“Mulheres que Abrem Caminhos”, de Pollyanna Marques, “Depois do Amém”, de Hítallo Torquato e Ravi Dourado; “Meça Três Vezes Antes de Cortar”, de Zulmí Nascimento; Relicário de Amanda Rosa e Hítalo Torquato; Orfãos do Imperador, de Thiago Alonso,” Bendito Seja o Beck”, de Marcus Vinicius Diniz; “Distante de Mim”, de Aari Diaz, Maria Fernanda Pelles e Tharso Marques e Último Corre, de João Paulo Rabelle e Erik Godim.

Dos filmes que me chamaram a atenção desta sessão foram: “Mulheres que Abrem Caminhos”, que retrata um Terreiro onde a maioria das mulheres são lésbicas , com depoimentos muito interessante sobre o relacionamento, o acolhimento e a espiritualidade, Relicário que aborda de o assassinato de uma mulher trans, com uma final de filme no gênero fantástico, “Orfãos do Imperador”, documentário que mostra depoimentos de pessoas que ainda acreditam que a Monarquia é a melhor coisa para o Brasil, em uma espécie de Brasil paralelo, contrapondo com entrevista com historiadores e “Último Corre”, com um final  feliz  versão do diretor .

O último dia do Goiânia Mostra Curtas 2025 conta com mais 11 filmes da mostra universitária, encontro de realizadores e noite de premiação.

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