Curta Paranagua 2024

As Golpistas

O verdadeiro golpe é este ser um bom filme

Por Felipe Novoa

As Golpistas

”As Golpistas” é uma viagem no senso americano coletivo de justiça, apenas uma dentre milhares de histórias de derrota pós quebra da bolsa de 2008, porém acima de tudo uma história sobre o Sonho Americano.

O roteiro é bem direto, é a narração da protagonista Constance Wu que vive Dorothy para a jornalista Jessica Pressler, uma stripper filha de imigrantes, que tenta ganhar a vida com esse emprego apesar do pagamento baixo. Na boate nova onde trabalha ela encontra Ramona (Jennifer Lopez), que é muito mais do que talentosa e bem paga. Elas formam uma amizade e depois da crise, junto com duas outras strippers, acham essa oportunidade de negócios drogando e roubando milionários de Wall Street que por sua vez roubaram o povo estadunidense.

Sendo brutalmente honesto eu cheguei ao cinema não esperando nada de bom, esperava uma atuação fraca com uma história que deveria ter permanecido como um artigo da revista New York, mas com o decorrer do filme me encontrei numa posição muito confortável de estar agradavelmente surpreso com a obra que foi me apresentada. “As Golpistas” mostra de forma veraz os perrengues que um grupo marginalizado passa pra se manter vivo. É um filme profundamente humano que mostra até onde alguém vai para alcançar a segurança, conforto e luxo que o dinheiro podem trazer.

A moral é algo importante nessa linha narrativa. As mulheres são strippers mas não prostitutas, elas fazem apenas o seu trabalho até o momento que não conseguem mais trabalhar. Elas dopam e estouram o cartão de ladrões engravatados milionários mas eles fizeram pior, existe algum tipo de código de honra fazendo com que os crimes delas pudessem ser classificados como reparação histórica.

Quanto as atrizes, Jennifer Lopez não está exatamente ruim em “As Golpistas”, a cena de introdução dela no show de pole dance foi no mínimo envolvente, um colega de fileira meu durante a seção estava visivelmente atento. Em questão de habilidade como dançarina ela é incontestavelmente fantástica; como atriz pode deixar um pouco a desejar mas como ela é primeiro uma cantora e, diga-se de passagem, exímia dançarina, isso pode ser relevado. Lhe falta profundidade emocional mas nesse contexto meio que tanto faz. Durante todo o filme o roteiro trata sua personagem Ramona como alguém que não pode ser confiada mas isso reflete bem a visão que Dorothy tem dela, e nesse ponto Lopez conseguiu cumprir bem seu papel.

Infelizmente o casting se baseia demais em cantores celebridades para aumentar a hype em volta do filme, Lizzo e Cardi B aparecem só durante o arco pré crise econômica e somem pra não serem mais mencionadas. O cantor Usher também aparece pra um cameo rápido, o que felizmente foi divertidinho e não desnecessário mas só serviu pra esticar os longos 107 minutos.

Voltando em Constance Wu, ela mostrou muitíssimo bem a dor e sofrimento que uma pessoa abandonada pelos pais e que cresce como pária social pode passar. Ao longo do filme ela se torna mãe solteira, perde a avó e senta numa montanha de dinheiro, tudo culminando em ser presa e ver suas amigas indo juntas. Isso é uma carga emocional pesada e Wu foi muito bem. Dentre as outras estrelas, Keke Palmer (Mercedes) e Lili Reinhart (Annabelle) conseguiram ser memoráveis a seus modos mas não demonstraram muito mais em questões mais sérias, serviram como alívio cômico nos momentos oportunos e no geral estavam bem.

O ritmo é de longe o maior problema do filme. A história parece não evoluir e isso acaba cansando muito. Numa das cenas mais emocionais deu pra ouvir um crítico bocejando bem alto. E o problema parece ser do roteiro e montagem, a história não parece ter buracos mas ela se estende demais em partes menos críticas. Talvez isso venha de ser literalmente uma narrativa de Dorothy mas independente do estilo mais lento isso foi um ponto negativo.

”As Golpistas” excede expectativas e apresenta uma história real sobre o conflito econômico que todos vivemos, como poucos se beneficiam disso pro malefício de muitos e como algumas se aproveitaram da natureza estúpida de canalhas pra melhorar suas vidas. Um filme que conta uma história não necessariamente relacionável a grande massa que o vai assistir mas que mostra um outro mundo que não vemos e não percebemos mas que tem os mesmos problemas e alegrias que nós temos.

 

4 Nota do Crítico 5 1

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