Direção: Julie Bertucelli
Roteiro: Judy Pascoe, Elizabeth J. Mars
Elenco: Charlotte Gainsbourg, Marton Csokas, Morgana Davies, Aden Young
Fotografia: Nigel Bluck
Música: Grégoire Hetzel
Produção: Julie Bertucelli, Yael Fogiel, Sue Taylor
Distribuidora: Pandora Filmes
Duração: 100 minutos
País: França/ Austrália
Ano: 2010
COTAÇÃO: BOM
“A Árvore” aborda o sentimento de perda de um ente próximo por meio do simbolismo inanimado. O ser do título comporta-se como um substituto da pessoa que morreu. O filme, da Da mesma diretora de “Desde que Otar Partiu”, retrata uma família comum, interiorana, às voltas com pendências financeiras e de trabalho. A árvore transforma-se em ouvinte, personagem ativa (quando inclui vontades próprias – as raízes afetam a estrutura da casa – e ou incute a sua presença no psicológico da família), pai e túmulo. A personificação conforta a sofrer, impedindo que a realidade se torne verdadeira. Preferem acreditar em um mundo criado da loucura – com direito a ouvir vozes que não são escutadas pelo espectador. O longa encerrou o Festival de Cannes de 2010. O início mostra o cotidiano desta família, com brincadeiras em uma rede e o trabalho do marido: transportar casas portáteis. Idéia criada por causa das tempestades e dos furacões. É a metáfora do recomeço.
Com narrativa leve, detalhista e naturalista, permite que a história aconteça por si só, com ações banais da rotina. A atmosfera transpassa um tom emocional sem a apelação do melodrama, transformando as crianças em adultos – com ações, percepções e diálogos perspicazes. A fotografia trabalha a favor, como por exemplo, na excelente cena que a esposa descobre o sol dentro de um quarto escuro. “Fantasma não, é real, mãe”, diz a filha. A noite intensifica o desejo desesperado da falta, desencadeando a necessidade extrema da crença. Em uma pequena aldeia na Austrália, um casal vive com seus quatro filhos. Uma tragédia: o pai morre bem diante da filha menor, Simone (Morgana Davies, excelente). Em meio à depressão que se segue, Simone consegue apoio numa fuga para enganar a tristeza: ela passa a acreditar que o espírito de seu pai encarnou na enorme figueira ao lado de sua casa. Porém, a vida precisa seguir em frente, e ela precisa crescer.
A mãe (Charlotte Gainsbourg – que já realizou um filme tendo uma árvore como protagonista – talvez a mesma, quiçá a semelhança – no longa “O Anticristo”, de realismo fantástico – e de terror – do diretor Lars von Trier) também precisa crescer, superando a depressão pós acidente. Porém, em determinado momento, há mudança na forma com que a trama é contada. A superficialidade torna-se um elemento constante. Uma possível explicação para isso pode ser o medo de não fazer do roteiro um dramalhão. “A gente pode escolher ser triste ou feliz. Eu estou feliz”, diz-se. Morcegos, sapos, formigas, galhos na cama, vale tudo para prender a atenção do espectador e gerar sustos. “Achei que (espíritos) só voltassem em animais, não em plantas”, diz-se. Com uma sucessão de diálogos perdidos, o filme, Baseado no livro Our Father Who Art in the Tree, perde a mão. Concluindo, o longa com parte técnica clássica, não inova, mas conduz com competência. O roteiro passa a mensagem do egoísmo de quem sofre mais, utilizando um ciclope como limite ao recomeço. Um filme morno e medroso por não resolver o aprofundamento necessário e exigido.
Nasceu em 1968 e trabalhou como assistente de direção de cineastas como Otar Iosseliani, Bertrand Tavernier e seu pai, Jean-Louis Bertucelli. Após dirigir o documentário para a TV Un Monde en Fusion (2001), estreou como diretora de cinema com o longa-metragem Desde que Otar Partiu (2003), vencedor do Grande Prêmio da Semana da Crítica no Festival de Cannes. A Árvore é seu segundo longa-metragem.
1 Comentário para "A Árvore"
Já no trailer tive a sensação de que não iria gostar muito desse A árvore. Normalmente quando não gosto de um trailer, não é bom sinal. Bem, você disse que o filme e morno e medroso. Eu achei chato mesmo!