Artigo Livre
O Lado Sem Coração das Premiações do Cinema
Por Fabricio Duque
Ah, o Oscar! É inerente ao ser humano a possibilidade de se utilizar da força, traduzida na forma de competição, a fim de atingir os objetivos, aceitando a crueldade do conceito de “onde os fracos não têm vez”. Este estimulador pode ser despertado fisicamente (horas sem dormir e ou se alimentar), mentalmente (repetição sistemática da perfeição), eticamente e ou de maneira subjetiva (logicamente intrínseca nas anteriores). Outro fator importante é a diversidade das possibilidades de sentir, gostar e de identificação que cada um possui. O ditado popular “o que seria do verde, se só existisse o amarelo” faz sentido se levarmos em conta as premiações dos Festivais de Cinema. O simbolismo social do ganhador, hipocritamente não encontra abrigo na falsa defesa de “o importante é competir”. Não, não é.
O grande vencedor recebe méritos, desencadeando o capitalismo crônico de manipulação da massa. Posso exemplificar com a foto acima. Quantos anos a fantástica atriz Meryl Streep levou para que pudesse receber o seu “valor”? Alguém lembra dos indicados ao prêmio de melhor filme estrangeiro de quatro anos atrás? Garanto que não. Nem sempre um Globo de Ouro, Oscar, Bafta, Cannes, entre outros, acerta no melhor. Sabem o porquê? É simples. O melhor não existe. É totalmente subjetivo, opinado por indivíduos dotados de excentricidades, individualismos e, de novo, subjetividades. A antropologia da vitória “bagunça” a ideia da liberdade buscada, pois acabamos consumindo o indicador e não mais a possibilidade. Chega a ser cruel, e quiça, aversivo (quase uma repugnância invencível) aos outros que não ganharam nada. Pensa-se “Não quero mais assistir aquele indicado. Viu, perdeu. Escolherei o que venceu”. Talvez, a melhor coisa que tenha acontecido ao filme “O Palhaço”, que entrou na briga por uma indicação ao Oscar, foi não ter sido escolhido, assim como “O Som ao Redor” (um dos melhores da lista do New York Times).
Eu sei. É fato que existem muitos filmes e que a figura do prêmio filtra e fornece um caminho mais reto ao espectador. Há a piada que “A Vida é Bela, mas Central do Brasil não acha”, referência à perda do filme brasileiro. Criou-se, erroneamente, que para um filme encontrar o seu lugar, precisa, sim, ganhar alguma coisa. A propaganda midiática é a alma do negócio. Sem isso, não há dinheiro para um próximo filme. Será que este é o futuro? Só os fortes terão vez? Não haverá espaço para aquele que cansou de ganhar? São questionamentos sociais que ajudam a mitigar um pouco a alienação do “caminho pronto”, economizando pensar nas vontades e recebendo a cartilha da “ovelha”. Acredito, piamente, que sem premiações, o mundo seria um lugar melhor, mais livre individualmente e mais sociável. O desejo de ser mais do que é, estimulado pelo próprio universo o qual vivemos, prejudica o real querer da verdadeira vontade. Aproveite todos os indicados, sem compará-los, porque cada um é cada um em sua importância, discurso, necessidade, limitação e até mesmo na falta de atração. Fica a dica.