Curta Paranagua 2024

Anticena

No celular é cinema?

Por Ciro Araujo

Durante o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro 2022

Anticena

O que acontece previamente de se gravar uma cena de cinema? E o que define uma gravação de um filme? As perguntas apresentadas fazem parte da síntese de “Anticena”, curta-metragem de Marisa Arraes e Tom Motta.

O grande interesse pelas indagações possui, antes de tudo, um pano de fundo: o cinema contemporâneo finalmente cria hoje frutos nas creditações cinematográficas. Fazer filme, através da democracia descoberta nos aparelhos tecnológicos fez a indústria se transformar. Essas duas explicações levam ao trabalho dos realizadores Marisa e Tom para um campo onde criar está além de convenções técnicas clássicas.

“Anticena” se interessa pela simplicidade da coisa. Narrativamente está ali, ficcional, procurando uma naturalidade na atuação que ainda possui os perrengues de quem está começando no trabalho de cineasta. Marisa, uma das diretoras, realizou anteriormente “Terra”, curta universitário, em 2020.

A conjuntura do trabalho se dá dentro das linhas de texto: entra um sistema fílmico complexo, que afasta a população em um geral do campo de produção. É muito comum encontrar-se diante de qualquer um que acredite que fazer cinema está longe da realidade dele. Já o curta-metragem se adianta e impõe uma visão positiva: é possível e está mais próximo de cada um. Em um circular pandêmico, de atualidade sobre a terceirização do trabalho, a obra de Tom e Marisa se vê preso bastante nesse sentido de pensar sobre realizar. Talvez, inclusive, a obra dentro de um aspecto de curadoria, coubesse no 54º Festival de Brasília, do ano passado. O evento teve um foco na questão do futuro cinematográfico, no qual muito se discute.

Para complexar a questão, há nesse sentido esse interesse em profissionalizar ou não o cinema popular. Bater claquete, edição, som, profissionalização técnica. Esses pontos distanciam o simplório ato de filmar o dia a dia e existir ali dentro o simples e puro cinema. Simples e puro? Cinema para ser discutido é muito vasto. Sean Baker fez seu longa “Tangerine” em 2015 com seu iPhone e um “singelo” orçamento de cem mil dólares. As lentes que acoplou no smartphone eram caríssimas. Então essa questão de cinema de guerrilha se destrava; e, voltando à “Anticena”, que é uma obra realizada com convenções cinematográficas contemporâneas e tradicionais – narrativa direta, montagem linear, etcetera – parece que recai em uma situação de impasse. E de fato cai, já que em seu final, Tom e Marisa pontuam através do personagem de Rafael Soul: “quem tem fome?”. Uma resposta conciliadora para uma questão talvez complexa demais para curta-metragem, mas que ousou ao menos abordar fazer cinema descentralizado.

3 Nota do Crítico 5 1

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