A Crítica e as Cotações dos Filmes do Festival de Berlim 2024

Dahomey

A Crítica e as Cotações dos Filmes do Festival de Berlim 2024

Uma análise sobre funciona a crítica durante um festival e as notas de todos os filmes vistos até agora

Por Fabricio Duque

Antes de tudo, é preciso lembrar que o cinema tem visões subjetivas. Cada um assiste (e encontra) um filme de um jeito. Há muitos elementos envolvidos: predileções, identificações, referências do meio, distâncias e idiossincrasias. Cada filme é uma experiência individual. E é por isso que devemos respeitar essas sensações e “batidas” diferentes. Existe também a influência do estágio em que estamos. Cansaço, frio, calor, sim, tudo ajuda e atrapalha nossa imersão à obra, visto que somos humanos, e assim limitações. E quanto mais o festival acontece, mais intolerante ficamos. Se alguém, por exemplo, cochichar e/ou abrir um pacote de comida em um filme silencioso. Dito isso, vamos às primeiras análises dos filmes que já saíram do embargo e podem ser publicadas. Mas o meu conflito continua: assistir filmes ou ter tempo para escrever filmes? Fazer a crítica logo do filme com um tempo máximo de 30 minutos a uma hora ou pensar mais (degustar mais)? Sim, um paradoxo: “atender” imediatamente os leitores versus um aprofundamento maior do conteúdo e das ideias. Pois é, aqui a quantidade se confronta com a qualidade. Todo e qualquer crítico de cinema sempre diz que “mais um filme gera a obrigação de mais uma crítica” e a maioria tem a mesma resposta: “é melhor feito que não feito”. Será? Sim, todo ano bate nessa mesma tecla. E sim, como todo apaixonado por filmes, sempre busquei ver o maior número possível de filmes. Em alguns festivais anteriores, por exemplo, no Festival de Cannes, cheguei a assistir 9 filmes, desde o primeiro filme às 8:00 até o último filme meia-noite. Vale à pena? Pois é, críticos de cinema também têm suas vulnerabilidades, por isso que nossas opiniões não podem ser levadas à ferro e fogo. Sim, tudo gera uma crise, até porque muitas obras precisam ser “digeridas” (minha expressão que digo em todo festival quando ainda não sei se gostei ou não de um filme) com mais tempo. 

Enfim, neste Festival de Cinema de Berlim 2024, optei pelo inverso: programar uma grade com apenas quatro filmes por dia. Todos da competição oficial, dos filmes brasileiros, dos realizadores preferidos e de uma ou outra surpresa. Sim, um festival também acontece por acasos. Diferentemente de muitos críticos que aqui estão fazendo suas coberturas, percebi que este ano, nesta edição 74, o festival conseguiu até agora um resultado bem positivo ao trazer filmes com um que a mais (sim, ainda que essa seja a marca e propósito da Berlinale), que fogem de narrativas mais padronizadas e gatilhos comuns, e que experimentam imagens e sensações mais subjetivas. Menos comerciais. Dizem até que a curadoria foi “fraquinha” por conta de ser o último ano do diretor artístico do festival, Carlo Chatrian. Sim, é lógico também que há obras mais “fáceis e palatáveis” , cujos diretores talvez acreditem que o que “vende mais” é a estética hollywoodiana. Em outro também, um festival de cinema pode ser conhecido como um “antro maniqueísta” em que cada opinião de seus críticos-opinativos chega a níveis extremos e literais. Parece que não há sutilezas, entrelinhas, metáforas e simbolismos. Tudo é nivelado pela mais radical tentativa de se traduzir definitivamente e extremamente individualista uma obra assistida. É assim que nascem “ranços” e maestrias. Talvez pela fisiologia patológica do ser humano que é buscar ter sempre razão. Aqui, nesta edição 74 do Festival de Cinema de Berlim não poderia ser diferente. Filmes galgam status imediatos de amor e ódio. Tudo isso reverbera outra questão de sua pressa. De sua necessidade de competição. De publicar antes de todo mundo. Pois é, abordarei melhor esses pontos na matéria Balanço Geral. 

Meu festival começou oficialmente com o filme “Small Things Like These”, do realizador peakyblinderano Tim Mielants, com o oppenheimer Cillian Murphy e a larsvontriana Emily Watson, que já escrevi algumas linhas analíticas na matéria “Primeiras Impressões do Festival de Cinema de Berlim”. Parece mesmo que a tradição da Berlinale é começar com um filme “meia bomba”. Lá na matéria eu explico minha opinião do porquê de todo meu incômodo. De sentir que um filme que não é cuidado faz um desserviço ao cinema, porque estimula a experiência da narrativa mais palatável, mais fácil de entender, mais didática em suas ações e reações. Não, este não é uma obra recomendada aos verdadeiros amantes da sétima arte e da imagem cinematográfica. Cotação: duas câmeras. Por que duas? Por causa da interpretação da atriz Emily Watson. O segundo filme foi o romeno “Holy Week – Săptămâna Mare”, de Andrei Cohn, que simula uma fábula em tom realista de uma comunidade de diferentes povos geográficos, que destilam comentários ofensivamente, porém naturalizados, de forma subjetiva sobre características e a tipicidade observada entre judeus, ciganos e qualquer um que soe diferente. Muito recomendado! Uma livre adaptação do livro de 1889 “An Easter Torch”, do autor romeno Ion Luca Caragiale. Cotação: quatro câmeras. 

Até este momento da matéria, assisti a 34 filmes. Mas o festival ainda não acabou. Faltam dois dias! Como disse que preferi esperar, ao longo do mês de março, as críticas serão lançadas. Com tempo e respeito, mais digeridas e mais pensadas. A seguir, listo as cotações dos filmes. E hoje mais tarde acontece a cerimônia de premiação (e encerramento) do Festival de Cinema de Berlim 2024!

AS COTAÇÕES DOS FILMES

5 CÂMERAS

  • DAHOMEY, de Mati Diop (Mostra Competição Oficial)
  • KEYKE MAHBOOBE MAN (My Favourite Cake), de Maryam Moghaddam e Behtash Sanaeeha (Mostra Competição Oficial)
  • LOVE LIES BLEEDING, de Rose Glass, com Kristen Stewart (Mostra Berlinale Special)
  • WU SHO ZHU (Abiding Nowhere), de Tsai Ming-liang (Mostra Berlinale Special)
  • YEOHAENGJAUI PILYO (A Traveler’s Needs), de Hong Sangsoo (Mostra Competição Oficial)
  • A DIFFERENT MAN, de Aaron Schimberg, com Sebastian Stan (Mostra Competição Oficial)

4 CÂMERAS

  • SEVEN VEILS, de Atom Egoyan, com Amanda Seyfried (Mostra Berlinale Special)
  • VOGTER (Sons), de Gustav Möller, com Sidse Babett Knudsen (Mostra Competição Oficial)
  • DES TEUFELS BAD (The Devil’s Bath), de Veronika Franz e Severin Fiala (Mostra Competição Oficial)
  • LANGUE ÉTRANGÈRE, de Claire Burger (Mostra Competição Oficial)
  • STERBEN (Dying), de Matthias Glasner (Mostra Competição Oficial)
  • HORS DU TEMPS, de Olivier Assayas, com Vincent Macaigne (Mostra Competição Oficial)
  • LA COCINA, de Alonso Ruizpalacios (Mostra Competição Oficial)
  • SĀPTĀMÂNA MARE (Holy Week), de Andrei Cohn (Mostra Forum)
  • MADE IN ENGLAND: THE FILMS OF POWELL AND PRESSBURGER, de David Hinton, com Martin Scorsese (Mostra Berlinale Special)

3 CÂMERAS

  • SHAMBHALA, de Min Bahadur Bham (Mostra Competição Oficial)
  • BLACK TEA, de Abderrahmane Sissako (Mostra Competição Oficial)
  • CIDADE; CAMPO, de Juliana Rojas (Mostra Encounters)
  • BETÂNIA, de Marcelo Botta (Mostra Panorama)
  • ARCHITECTON, de Victor Kossakovsky (Mostra Competição Oficial)
  • DORMIR DE OLHOS ABERTOS (Sleep with Your Eyes Open), de Nele Wohlatz (Mostra Encounters)
  • TREASURE, de Julia von Heinz, com Lena Dunham e Stephen Fry  (Mostra Berlinale Special)
  • TÚ ME ABRASAS, de Matías Piñeiro (Mostra Encounters)

2 CÂMERAS

  • SPACEMAN, de Johan Renck, com Adam Sandler, Carey Mulligan, Kunal Nayyar (Mostra Berlinale Special)
  • GLORIA!, de Margherita Vicario (Mostra Competição Oficial)
  • PEPE, de Nelson Carlos De Los Santos Arias (Mostra Competição Oficial)
  • L’EMPIRE (The Empire), de Bruno Dumont (Mostra Competição Oficial)
  • IN LIEBE, EURE HILDE (From Hilde, with Love), de Andreas Dresen (Mostra Competição Oficial)
  • TURN IN THE WOUND, de Abel Ferrara, com Patti Smith (Mostra Berlinale Special)
  • SMALL THINGS LIKE THESE, de Tim Mielants, com Cillian Murphy e Emily Watson (Mostra Competição Oficial)
  • THE STRANGER’S CASE, de Brandt Andersen, com Omar Sy (Mostra Berlinale Special)
  • REAS, de Lola Arias (Mostra Encounters)

1 CÂMERA

  • MÉ EL AÏN (Who Do I Belong To), de Meryam Joobeur (Mostra Competição Oficial)
  • ANOTHER END, de Piero Messina, com Gael García Bernal (Mostra Competição Oficial)

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