Diretor: João Amorim
Roteiro: João Amorim
Elenco: Sting, Gilberto Gil, David Lynch, Ellen Page, André Soares, Lucy Legan, Paul Stamets, Richard Register, Penny Livingston, Buckminster Fuller, Dennis Mckenna, Terence McKenna, John Todd
Fotografia: Joao G. Amorim, Felipe Reinheimer
Edição: April Merl
Animações: Dustin Lindblad
Produção: Joao G. Amorim, Sol Tryon, Giancarlo Canavesio
Produção Executiva: Daniel Pinchbeck
Distribuidora: Vitrine Filmes
Estúdio: Mangusta Productions / Curious Pictures / Postmodern Times
Duração: 85 minutos
País: Estados Unidos / Brasil / França / México / Suíça
Ano: 2010
COTAÇÃO: BOM
“2012: Tempo de mudança” aborda a sustentabilidade do meio ambiente de nosso planeta e as possíveis soluções de salvação. A narrativa empregada oscila entre fornecer a informação real e os sarcasmos apresentados. Um deles foi a opção de utilizar animações, que contam, resumidamente, as inúmeras devastações (e destruições) que o novo mundo já passou. O tom catastrófico é recorrente. Às vezes soa como institucional, outra como um revolucionário ingênuo e passional. Este por direcionar apenas um caminho, uma opinião. O que o faz sem discordâncias maiores, já que todo ser humano deseja que o lugar o qual vive seja satisfatório. Mesmo nos piores problemas, todos assumem que o individuo é responsável como o principal destruidor dessa terra.
Até aí não há novidades. Então, o diretor João Amorim acompanha o jornalista americano Daniel Pinchbeck, autor do bestseller “2012: O ano da Profecia Maia”, em busca de um paradigma entre a sabedoria arcaica de culturas tribais e o método científico. A linguagem apresentada nas animações reflete perspicácia e alto teor crítico sobre o que está acontecendo ao mundo hoje. O documentário discute a crise, focando no capitalismo, que se comporta como o anti-Cristo. “Esquecemos de olhar. Essa é a questão crucial”, diz-se. O objetivo é investigar problemas e buscar soluções. Desse “capitalismo malévolo”, o filme expande a direção do que se trata. As experiências psicodélicas, geradas pelas drogas (ervas naturais indígenas), podem modificar a percepção que cada um tem sobre si mesmo.
E isso, fazer com que o olhar seja alterado positivamente. “Se ele usa a droga ou as drogas o usam?”, pergunta-se querendo manipular o real enfoque. Há muitas referências, como The Colbert Reporter (um tipo de Jô Soares) a fim de embasar que todo esse questionamento levantado já está presente na mídia atual. O Calendário Maia previu o fim do mundo em 2012. “O que se espera deste ano é apenas uma transformação. É uma data simbólica”, explica-se. O mundo continuará sendo o mesmo, porém a percepção sobre as coisas mudará. Será adicionado solidariedade e responsabilidade ambiental. O argumento transpassa que algumas experiências herbáceas, como o Santo Daime, mitiga a visão limitada.
O que se consegue: ver o todo e o detalhe juntos, com inúmeras possibilidades. É um existencialismo humanizado. Porque julga utilizando a auto-ironia. Muitos desses problemas já são considerados óbvios, repetitivos e batidos. A sua recorrência não causa mais surpresa. A água é cara por ser controlada por lucro. É um fato. “A água não deveria ser vendida”, atesta-se. Mostram-se grandes marcas, acompanhadas por Jazz. Outro fato: já temos consciência de que atacar isso também ocasiona o politicamente correto. Outro: Dubai torna-se o inimigo universal número um. São clichês e clichês de tentativas, apertando a mesma tecla, de solucionar e revolver nossos erros. Uma andorinha só não faz verão.
É desse ditado popular que o filme tenta acontecer e mostrar ao que veio. Os filmes antigos, em preto-e-branco, tentam, de novo, embasar e divertir, culturalmente, o roteiro. Somos os principais vilões por lavar o carro, comer no McDonalds, tomar banho demorado. O que não se dão conta é que trabalham com a hipocrisia. Os mesmo que impedem algo, são os mesmos que cometem algum (outro) deslize (tão incorreto). Fato. “Profecia e história tornam-se a mesma coisa”, define-se sem oposto ponto de vista (que neste tema procura-se mas não se encontra o pensamento contraditório). “O futuro é reflexo do passado”, diz-se. Outros acontecimentos são mostrados. Furacões, Tsunamis e as palavras de Indira Gandhi. “Semeando ideias”, diz Gilberto Gil.
Há ainda Sting e David Lynch. Fala-se sobre comida orgânica (e o seu principio nos anos 60), Yoga, sincronia da alma, conectar à natureza. Até colocam a história de Ellen Page, atriz de “Juno” (que realizou uma viagem de Permacultura – cuidar da natureza). Há cogumelos, tratamentos de água. “A evolução da evolução. A evolução da consciência”, diz-se. “Falta sensibilidade ao próximo”, finaliza-se. Concluindo, um documentário que tenta seguir variadas linhas narrativas (e de temas). Isso acarreta uma perda do próprio contexto, que se apresenta deslocado e perdido. Não prejudica o que se informa, mas a forma como é feito. O material tem conteúdo e é extremamente necessário. Porém quando decide abordar e “viajar”, literalmente, em muitas vertentes, cansa o espectador, porque se parece vários filmes dentro de um mesmo. Se vale a pena assistir? Claro, que sim. Recomendo. Até porque podemos assistir as animações e as ideias da atriz Ellen Page e David Lynch.
João Amorim é um diretor focado em animação e documentários, e, mais especificamente, na mistura de ambos os gêneros. É um dos sócios fundadores da Postmodern Times, uma companhia de mídia focada em filmes sociais e ambientais. Dirigiu e produziu a série de animaçao ”Beyond 2012, Perspectives on the Next Age”, sobre a evolução da consciência e da ecologia. Trabalhou no mundo inteiro como designer industrial, animador e supervisor de animação antes de dirigir. Foi o chefe de animação, em “Chicago 10”, filme de Brett Morgen que abriu o Sundance de 2007, pelo qual João foi nomeado ao Emmy de 2009. Seu curriculo inclui diversos curtas-metragens como ”Ferrets for Freedom” - um curta político sobre furões e Giuliani que se tornou um hit no YouTube -, o premiado ”Don’t get Charged up” sobre a reciclagem de pilhas, e seu trabalho como diretor de animação em ” Footsteps in Africa” que aborda rituais de tribos africanas. João Amorim medita todos os dias, pinta, pratica yoga e tem um projeto de sustentabilidade de permacultura no Brasil através da ONG Ciclo Sustentável. Em 2008, seu projeto de Unidade Sustentável foi finalista na Buckminster Fuller Challenge.
Com a palavra o diretor: “O filme não é um “remake” do livro. Diria que o filme é muito mais objetivo, e menos metafísico. Lidamos com soluções práticas para a transformação do indivíduo e da sociedade como um todo. Apresentamos soluções em diversas áreas, seja a de produção de alimentos, como sistemas de banco de horas, e até energias limpas; assim mostrando que as soluções que precisamos já existem, e que o que precisamos é conectar os pontos e trabalhar de forma cooperativa. Não tenho a pretensão de saber se algo misterioso vai acontecer em 2012 ou qualquer outra data. Seria ótimo… Agora o que posso dizer é que de fato varias sincronicidades existem com essa data. Por exemplo, o Protocolo de Kioto expira em 2012. Também está previsto que a atividade solar atinja o seu “Solar maximum” em 2012. Enfim, não tenho ambições proféticas, nem apocalípticas. Acredito que temos de fazer a nossa parte, e ao menos debater em que sociedade queremos viver, e assim tomar atitudes apropriadas para criarmos uma sociedade em maior harmonia com a Natureza”.