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O diretor dinamarquês Lars von Trier nasceu em 30 de abril de 1956. A partícula “von” foi adotada por ele durante o período em que esteve estudando cinema. O cineasta ficou conhecido por criar, junto com Thomas Vintenberg, Dogma 95, manifesto escrito para a criação de um cinema mais realista e menos comercial, com ideia tão controversas quanto seus filmes. As regras mais importantes são: filmagens em locações, o som não deve ser produzido separado da imagem, a música não poderá ser utilizada a menos que esteja no local onde a cena está sendo realizada, câmera usada na mão, a imagem deverá ser em cores, ocorrendo na época atual, sem truques fotográficos, sem ações superficiais – como armas, por exemplo – e o nome do diretor não poderá ser creditado. Imagine? Foi um sucesso no Festival de Cannes de 1995. A experimentação sempre resolve. O júri, principalmente, de Cannes, busca a novidade. Em 2005, foram adicionadas regras: ser feita em formato digital, acontecer sempre na Escócia, as filmagens não podem ultrapassar o prazo de 6 semanas e o custo total do filme não pode ultrapassar a quantia de um milhão de libras.
Este manifesto se mostra, por trás de uma máscara ideológica, preocupado não tanto com termos estéticos, mas sim com aspectos econômicos. Há quem diga que Lars Von Trier é um marqueteiro de plantão. Porém prefiro acreditar que Dogma 95 é um grito de independência em relação ao modo industrial de se fazer cinema. O contexto geopolítico, o contexto econômico mundial da globalização e as revoluções tecnológicas da mídia, tiveram impacto violento na cultura de massa, afetando diretamente o cinema. Estranhamente, o único filme de Lars que segue a risca estas regras é “Os Idiotas”. O diretor trabalha num projeto pessoal: roda 3 minutos de filme todos os dias em diferentes locais na Europa. A sua intenção é realizar este trabalho durante 33 anos e – como ele teve início em 1991 – a previsão é de que o filme seja lançado, apenas, em 2024.
Não se pode negar que é um cineasta extremamente excêntrico e que coleciona polêmicas. Entre as muitas curiosidades da produção do filme, “Dogville”, há histórias que contam que Lars prendeu a atriz Nicole Kidman em um quarto escuro para que ela interpretasse do jeito que ele queria. Em uma entrevista pós-filme, Nicole disse que nunca mais trabalharia com Lars e não aceitou fazer parte do filme “Manderlay”, que é continuação de “Dogville”. O mesmo aconteceu com a cantora atriz islandesa Bjork no filme “Dançando no escuro”. O trauma da atriz em trabalhar com o cineasta foi tanto, que ela declarou que nunca mais seria atriz na vida. A última polêmica teve vez no último Festival de Cannes, deste ano, quando o diretor apresentava o seu mais recente filme “Melancolia”, uma metáfora sobre a dificuldade das relações interpessoais, que causa a defesa interna, que causa a melancolia, que irá causar o fim do mundo. Um filme excelente que levaria a Palma de Ouro em Cannes se Lars não tivesse declarado que era Nazista. Era uma piada extremamente sarcástica e de humor negro.
Na verdade, o politicamente correto do mundo atual fez com que ele fosse banido pelo conselho dirigente do festival. Lars disse abre apas “Durante muito tempo pensei que fosse judeu e era feliz com isso. Ai conheci Susanne Bier (diretora dinamarquesa judia, do filme Em Um Mundo Melhor, vencedor do Oscar de melhor filme estrangeiro deste ano) e não fiquei tão contente. Então descobri que era nazista, que minha família era alemã. O que me deu muito prazer”. Dizem que sarcasmo é sinal de inteligência. Lars Von trier leva o prêmio de melhor ironia tanto por seus filmes que são exercícios de experimentação estética e narrativa, como é o caso do filme “Ondas do Destino”, do filme “Europa” e do filme “O Grande Chefe”. Porém é no filme “Anticristo”, que a experimentação fica explícita. A cena inicial é fantástica. A fama do cineasta Lars Von Trier é oito ou oitenta. As pessoas idolatram seus filmes ou detestam completamente. E você detesta, idolatra, tanto faz como tanto fez? Sarcasmo é sinal de inteligência? Ser alemão é ruim?
Algumas perguntas ficaram em aberto. Para que estes questionamentos não ficassem sem respostas, O programa convidou André Romano, crítico e apreciador da obra de Lars Von Trier. E Raphael Camacho, também crítico, porém não suporta o diretor em questão.
Dicas para não sair de casa
Todos os filmes comentados, você encontra na Locadora Cavideo, localizada na Cobal do Humaita.
Um deles é o filme “Os idiotas”, que conta a história de um grupo anti-burguês que se comporta, em público, como se tivesse Síndrome de Down, propondo a procura do seu “idiota interior” como uma forma de se libertar de inibições, desestabilizar a ordem dos lugares por onde passam. É uma tentativa de fugir do tratamento dado pela sociedade em geral à inteligência dos deficientes mentais, considerados pouco criativos. Excelente.
A outra dica é o filme “Dogville”, que quebra a narrativa clássica do cinema, inserindo elementos teatrais. O diretor estimula a percepção do espectador. De tanto achar que tem uma porta no lugar, por exemplo, a porta é vista de forma mental, mesmo sabendo que esta porta é uma invenção. Com um elenco magnífico, Nicole Kidman vive Grace, a protagonista. Obrigatório e imperdível, mesmo com três horas de duração.
A dica final é “Dançando no Escuro”, um musical depressivo com a cantora atriz Bjork, que interpreta Selma, que sofre de uma doença hereditária que ocasiona uma rápida cegueira progressiva. A cena final é uma das mais chocantes da história do cinema mundial. Vale muito a pena assistir.